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Josias de Souza

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

O nome do problema é Bolsonaro, não Queiroga

Colunista do UOL

17/09/2021 09h36

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Tudo se torna irrisório quando um médico, em meio a quase 600 mil mortos por Covid, se deixa infectar pela irresponsabilidade sanitária do chefe para conspirar contra a vacinação de adolescentes de 12 a 17 anos. Ao trocar o bom senso e as recomendações científicas da Anvisa pelas prescrições que Bolsonaro recolhe em suas incursões pelas redes sociais, o ministro Marcelo Queiroga atenta contra seu diploma de cardiologista e, sobretudo, contra a vida dos brasileiros.

Queiroga proclamava a sobra de vacinas no Brasil. Agora, rende-se a Bolsonaro para camuflar sua própria inépcia. Faltam ao redor do país vacinas da AstraZeneca para a segunda dose. Para completar o ciclo de imunização, espetam-se nos braços de adultos aflitos doses da Pfizer, a mesma vacina recomendada pela Anvisa para os adolescentes. Em vez de dar o braço a torcer, Queiroga torce os braços dos jovens e dos seus pais.

Prestes a ser indiciado no relatório final da CPI da Covid pela prática de pelo menos sete crimes, Bolsonaro não se constrange de continuar produzindo provas contra si mesmo. Admitiu em sua live semanal de quinta-feira, com Queiroga a tiracolo, que interveio para interromper a vacinação da rapaziada. Não foi uma "imposição", ele disse. Apenas deu sua "opinião". Para Queiroga, autoconvertido numa espécie de sub-Pazuello, as opiniões do capitão soam como ordens.

A pesquisa que o Datafolha acaba de divulgar revela que a taxa de impopularidade de Bolsonaro bateu em 53%. Um recorde. A mesma sondagem informa que 54% dos brasileiros avaliam como ruim ou péssima a atuação do presidente na pandemia. Entre os jovens de 16 a 24 anos o índice de reprovação é maior: 64%. Ou seja: Bolsonaro utiliza o dedo de Queiroga para disparar mais um tiro contra o seu próprio pé.

Incurável, o presidente avalia que a UTI do centrão salvará o seu mandato. O sentimento de invulnerabilidade impede Bolsonaro de perceber que sua insanidade é um convite ao eleitor para lhe dar alta nas eleições de 2022. O nome do problema é Jair Bolsonaro, não Marcelo Queiroga.