Topo

Josias de Souza

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Caso Prevent Senior deixa a fala de Bolsonaro na ONU ainda mais tenebrosa

Prevent Senior - Divulgação
Prevent Senior Imagem: Divulgação

Colunista do UOL

22/09/2021 09h24

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Deve doer nos parentes dos pacientes da Prevent Senior a ideia de que fizeram papel de bobos, numa peça de enredo confuso, encenada num gabinete paralelo, em que o ator principal é um presidente da República negacionista, e cujo epílogo é a morte de velhinhos que desceram à cova sem saber que engoliram cloroquina e outras poções mágicas.

O pano de fundo desse roteiro de horror é um estudo pseudocientífico sobre remédios ineficazes. Medicamentos que, convertidos em política pública pelo governo Bolsonaro, foram distribuídos na rede hospitalar que atende pelo SUS.

Numa madrugada de abril, o pesquisador Paulo Zanotto, investigado pela CPI como membro do gabinete paralelo que assessorava o Planalto na pandemia, enviou mensagem para um grupo de WhatsApp. Nela, cita resultados supostamente positivos do estudo tabajara da Prevent Senior.

No mesmo dia, citando o dono da Prevent Senior, Fernando Parrillo, Bolsonaro fez uma publicação nas redes sociais. Anotou que, entre os pacientes que optaram pelo kit cloroquina, "o número de óbitos foi zero".

Médicos que estiveram a serviço da Prevent Senior agora denunciam que agiram sob coação. Sustentam que o estudo é mequetrefe, que pacientes e familiares foram ludibriados e que pelo menos nove cadáveres foram empurrados para baixo do tapete.

Esse script parece tão inacreditável que seria refugado até como roteiro de uma telenovela. Entretanto, depois que o presidente da República do Brasil subiu ao púlpito da ONU, principal tribuna da diplomacia mundial, para receitar ao planeta o kit-cloroquina, tudo pode acontecer. Sob Bolsonaro, o possível virou apenas uma palavra que cabe dentro do impossível.