Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
CPI viveu cena típica de birosca de má reputação
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O Congresso Nacional é uma coisa, um botequim de quinta categoria é outra coisa. Num ambiente, a praxe é que os conflitos sejam solucionados por meio do diálogo. Noutro, as desavenças podem terminar em pancadaria.
Pois nesta quinta-feira (23), a CPI da Covid viveu num ambiente do Senado, Casa de vetustas criaturas, uma cena típica de uma birosca de má reputação.
O senador catarinense Jorginho, da bancada governista, interrompeu o colega alagoano Renan Calheiros, relator da CPI, para defender Bolsonaro. Renan não gostou. Armou-se um barraco.
A CPI ouvia o depoimento de Danilo Trento, diretor da Precisa Medicamentos. De repente, o hábito de tratar os contrários por "excelência" e "nobre colega" foi para as cucuias.
— Vai pros quintos, disse Jorginho, como se estivesse com a barriga encostada no balcão de um boteco.
— Vai você com seu presidente e Luciano Hang, respondeu Renan, como se os seus cotovelos estivessem recostados não sobre a bancada da CPI, mas sobre uma mesa de ferro —dessas que têm os pés em formato de 'X' e o tampo apinhado de garrafas de cerveja vazias.
Amigo de Hang, empresário bolsonarista convocado pela CPI, Jorginho elevou o tom.
— Vai lavar a boca para falar do Luciano.
— Vai lavar a tua, vagabundo.
A cena foi transmitida ao vivo pelos portais de internet pela TV Senado e por emissoras de TV por assinatura.
— Vagabundo é você, ladrão, picareta, reagiu Jorginho.
— Ladrão, picareta é você, devolveu Renan, partindo para cima do colega como se esgrimisse uma garrafa de cerveja que acabara de quebrar na quina da mesa metafórica do boteco parlamentar.
Um bêbado que testemunhasse a troca de insultos teria dificuldades para distinguir quem é quem.
A semana não produziu boas imagens para o Brasil. Em Nova York, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, mostrou o dedo médio em riste para manifestantes.
Em Brasília, não fosse pela intervenção da turma do deixa-disso, ladrão e vagabundo —ou vice-versa— teriam trocado socos sem dar tempo para que as crianças fossem retiradas da frente da TV.
Alguém já disse que o Brasil é a melhor piada já contada por um português. No momento, é preciso procurar muito para achar graça.
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