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CPI acaba, mas o inferno de Bolsonaro continua
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Às vésperas do encerramento da CPI da Covid, o grupo majoritário da comissão encontrou uma forma de evitar que caiam no esquecimento pedidos de indiciamentos e as propostas de aperfeiçoamento legislativo que constarão do relatório final a ser aprovado na próxima quarta-feira (20/10). Decidiu-se compor um comitê pós-CPI, um observatório para o acompanhar os desdobramentos da investigação parlamentar. Para desassossego de Bolsonaro, as cobranças invadirão o calendário eleitoral de 2022.
Desmontado o palco da CPI, Bolsonaro espera realizar o sonho da blindagem. Conta com a cumplicidade de Arthur Lira e Augusto Aras. O comitê pós-CPI não abrirá o gavetão em que o presidente da Câmara guarda os pedidos de impeachment. É improvável que o grupo arranque do procurador-geral uma denúncia contra o presidente por crime comum. Mas os senadores podem contribuir para a realização do pesadelo eleitoral de Bolsonaro, encostando os cadáveres da pandemia no comitê da reeleição.
Costuma-se dizer que o brasileiro não tem memória. No caso da pandemia, uma construção trágica, alicerçada sobre mais de 600 mil cadáveres, é remota a hipótese de ocorrer um surto coletivo de esquecimento. Mas o país não está livre de casos pontuais de amnésia. Daí a conveniência de cutucar gente como Lira e Aras.
Quem observou a forma como Bolsonaro se comportou durante a pandemia ficou confuso. Os devotos imaginaram que o presidente tinha uma estratégia capaz de causar inveja aos líderes de países civilizados que se renderam à ciência. Os céticos notaram que o capitão estava numa tática suicida, que empurraria os mortos por covid para dentro da sucessão presidencial de 2022.
Nenhuma das duas alas supunha que a tragédia teria a dimensão de mais de 600 mil covas. Do ponto de vista eleitoral, uma tragédia assim pode ter o peso de uma lápide.
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