Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Bolsonaro deveria privatizar a si mesmo, renunciando ao seu mandato inútil
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No Brasil, a principal forma de governo é a ruim. O governo Bolsonaro é muito pior. A excentricidade da administração atual é a incompetência acéfala. De quem é a culpa? Eis a pergunta que o capitão faz a si mesmo. "...Aumentou a gasolina, culpa do Bolsonaro", lamuriou-se. "Já tenho vontade de privatizar a Petrobras." A ideia não é ruim. Mas demoraria a ser concretizada. Há uma solução mais rápida. Bancado pelo déficit público desde os 18 anos, quando entrou para o Exército, Bolsonaro pode privatizar a si mesmo, renunciando ao seu mandato inservível.
Na Petrobras, Bolsonaro revela-se um personagem bipolar. Num instante, é capaz de tudo. Noutro, é incapaz de todo. Em fevereiro, enxotou do comando da estatal o economista Roberto Castelo Branco, apadrinhado de Paulo Guedes. Entregou a estatal ao general Joaquim Silva e Luna, a quem incumbiu de anestesiar os reajustes dos combustíveis. Os mercados elevaram o câmbio. E as ações da Petrobras perderam valor.
Decorridos oito meses, os combustíveis continuam subindo, puxados pelo dólar e pela cotação do óleo no exterior. Dias atrás, discursando na celebração dos mil dias de governo, Bolsonaro declarou que não é por "maldade" que o dólar e os combustíveis ficam mais caros. Revelou que discutia com o Ministério de Minas e Energia formas de baratear a gasolina.
"Não há nada tão ruim que não possa piorar", declarou, provocando novo tremelique nos mercados. O general Silva e Luna teve de correr à boca do palco para esclarecer que nada mudou na política de preços da estatal. Bolsonaro correu ao cercadinho do Alvorada para reconhecer que também está sujeito à condição humana: "Não faço milagre".
Todos sabem que Bolsonaro é avesso às privatizações. Jamais considerou a hipótese de levar a Petrobras ao martelo. A cenografia atual deixa o capitão em situação parecida com a do animal de uma anedota da década de 60.
Trata-se da piada do português que se tornou o principal credor de um circo. O circo faliu. Com o portuga em seu encalço, o dono ficou sem alternativa: "Não tenho dinheiro, mas pode levar o leão".
Decidido a passar o bicho nos cobres, o luso enxergou na juba do animal um traço do desleixo dos tratadores. Antes de vendê-lo, achou que deveria melhorar-lhe a aparência. Passou a máquina zero na cabeleira do leão que, sem juba, virou um cachorro amarelo.
No esforço que empreende para provar-se inocente no enredo de perversões em que se converteu o seu governo, Bolsonaro como que aplaina a própria juba. Lançando mão dos melhores estratagemas para atingir os piores subterfúgios, o pseudopresidente converte-se num insignificante cachorro amarelo.
No tempo em que Brasília ainda tentava fazer sentido, as coisas pareciam mais nítidas. No regime presidencialista, o rosto do presidente é a cara da crise. A imagem de Bolsonaro aparece para o brasileiro quando vai à mercearia, quando paga a conta de luz, quando enche o tanque do carro, quando sobra mês no fim do salário.
Bolsonaro, naturalmente, não tem nada a ver com coisa nenhuma. Ele não consegue enxergar a imagem de um culpado no espelho. Deveria considerar a sério a hipótese de sair de fininho. Ninguém reconheceria o semblante do ex-leão escondido atrás da fisionomia de um cachorro amarelo.
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