Centrão agora mede forças com Carlos Bolsonaro
Josias de Souza
Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na "Folha de S.Paulo" (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro "A História Real" (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de "Os Papéis Secretos do Exército".
Colunista do UOL
23/01/2022 04h53
Surgiram as primeiras trombadas entre os chefões do centrão e Bolsonaro na definição dos rumos da campanha à reeleição. Envolvem sobretudo pandemia, marquetagem e família.
O presidente se recusa a abandonar a retórica antivacina. E não parece entusiasmado com a perspectiva de incluir na sua estratégia os truques de um especialista em marketing eleitoral. O centrão enxerga Carlos Bolsonaro por trás do biombo. Tenta puxar-lhe o tapete.
Antagonismos fazem parte da rotina de qualquer comitê de campanha. Mas duas coisas distinguem a encrenca que se arma ao redor de Bolsonaro: a irascibilidade do candidato e a institucionalização da prole presidencial.
O primogênito Flávio Bolsonaro assumiu ares de coordenador de um conciliábulo integrado por Valdemar Costa Neto (PL) e Ciro Nogueira (PP). Carlos, o filho Zero Dois, corre por fora. Percorre as redes sociais à procura de encrencas que influem no metabolismo do pai, atiçando-lhe os maus bofes.
Dono do PL, o partido que filiou Bolsonaro, Valdemar foi incumbido de recrutar um marqueteiro. Chefe da Casa Civil, Ciro endossa a ideia de profissionalizar a campanha. Flávio não se opõe. Mas o irmão Carlos torce o nariz, numa aversão que é compartilhada pelo pai.
Bolsonaro atribui o triunfo de 2018 ao trabalho realizado na internet por Carluxo, como Carlos é chamado na intimidade. É improvável que o presidente destitua o filho do comando de sua máquina eletrônica de moer reputações.
O "trabalho" da eleição passada, tão enaltecido por Bolsonaro, consistia basicamente em construir o pedestal do "mito" a partir do emporcalhamento da imagem de rivais e da demolição do chamado "sistema". Ironicamente, isso incluía uma artilharia cenográfica contra o centrão.
Hoje, centrão dedica-se a transformar Bolsonaro num candidato sistêmico. O grupo assumiu o trono ao filiar o presidente ao PL. Coleciona cabeças em sua sala de troféus. Expurgou um general do quarto andar do Planalto para assumir a Casa Civil. Levou o Posto Ipiranga à breca ao controlar o Orçamento federal.
O centrão mede forças com Carluxo. Primeiro vereador federal da história, o personagem também faz coleção de cabeças. Abateu, por exemplo, dois ministros palacianos: Gustavo Bebianno, o advogado que morreu de desgosto; e Carlos Alberto dos Santos Cruz, o general que se integrou à caravana de Sergio Moro.