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Josias de Souza

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Cassação de Do Val é espetáculo que pede bis

Colunista do UOL

17/05/2022 20h16

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O mandato de Arthur do Val deveria ter sido passado na lâmina ainda em março, quando sua voz soou nos célebres áudios machistas. Concedeu-se a um desqualificado tempo para a renúncia. Com atraso, a Assembleia Legislativa de São Paulo impôs ao fugitivo a pena adicional da inelegibilidade por oito anos. Compareceram 73 dos 94 deputados estaduais. Nenhum se atreveu a votar contra a cassação. O espetáculo é tão extraordinariamente inusual que merece bis. Há matéria prima para a repetição. Mas ela não virá.

Mamãe Falei (demais) teve a cabeça apartada do pescoço por ter declarado que as mulheres ucranianas "são fáceis porque são pobres", além de ter comparado as filas de refugiadas da guerra às "melhores baladas de São Paulo". O deputado Fernando Cury, filmado apalpando os seios da colega Isa Penna no plenário, continua com a cabeça no lugar. Foi premiado com seis meses de suspensão.

O deputado Delegado Olim também continua exibindo a cabeça erguida na Assembleia mesmo depois de declarar em entrevista que Isa foi assediada sexualmente graças a uma trapaça da sorte. "A Isa Penna que... Sorte a dela. Ela vai se eleger por causa disso. Sim, ela só fala nisso!".

Levado ao Conselho de Ética pela deputada apalpada, Olim foi absolvido. Seis deputados estaduais, todos do sexo masculino, votaram contra o pedido de cassação por quebra de decoro parlamentar. O arquivamento do processo foi aprovado por 6 votos a 4.

Quer dizer: Arthur do Val pode ter sido cassado por muitas razões, exceto pelo seu machismo tóxico. Enquanto a lâmina não alcançar os pescoços de gente como Cury e Olim, bastará aos parlamentares permanecer de cócoras no plenário da Assembleia Legislativa de São Paulo para serem considerados hipócritas de grande altivez.