Alguém sairá desmoralizado do embate entre Bolsonaro e Alexandre de Moraes
O aperto de mãos e os tapinhas nos ombros trocados por Bolsonaro e Alexandre de Moraes compõem uma aula de hipocrisia própria dos ambientes de Poder. Aconteceu na cerimônia de posse de novos ministros do Tribunal Superior do Trabalho. Um grupo de músicos executava uma peça de Johann Sebastian Bach. Chama-se "As ovelhas podem pastar em segurança".
Horas antes, Moraes, futuro presidente do TSE, havia discursado em outra solenidade. Soou como um pastor que enxerga a democracia como uma ovelha em apuros. Segundo ele, a Justiça Eleitoral nasceu com "coragem" para "combater aqueles que são contrários aos ideais constitucionais e republicanos." Bolsonaro também havia discursado horas antes. Rosnou como um lobo das urnas eletrônicas, reiterando os ataques ao sistema eleitoral. E disse que gasta mais da metade do seu tempo se "defendendo de interferências indevidas" do Supremo Tribunal Federal. Embora não tenham citado nomes, um se referia ao outro.
Considerando-se que o percentual de admiração que Bolsonaro nutre por um ministro que já chamou de "canalha" e que acaba de acusar de "abuso de poder" é muito baixo, o razoável seria que se abstivesse de cumprimentar Alexandre de Moraes. Mas o presidente fez questão de se aproximar do desafeto. Sinalizou para que se levantasse, estendeu-lhe a mão. Levando-se em conta a suposição de que é grande o respeito que Moraes nutre por si mesmo, ele talvez devesse deixar a mão do ofensor pendurada no ar. Mas o ministro levantou-se da cadeira, excedendo-se na gentileza.
Bolsonaro e Moraes têm um outro encontro marcado para outubro. O ministro já declarou que quem sair da linha em 2022 vai "para a cadeia". "Jamais serei preso", declarou Bolsonaro dias atrás. Foi como se desejasse arrancar a estrela de xerife que Moraes imagina carregar no peito. Alguém sairá desmoralizado desse embate. Resta saber em que condições estará a ovelha depois que for ultrapassada a fase da hipocrisia.
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