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Bolsonaro deixa Deus mal com sua campanha
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Bolsonaro costuma dizer quer sua Presidência é uma missão divina e que só Deus pode retirá-lo do trono. Não se sabe quando Bolsonaro passou a acreditar em Deus. Mas, embora certas atitudes do presidente não combinem com o espírito cristão, não se deve duvidar de sua conversão. Para quem já aceitou o centrão, a metafísica não parece uma adesão tão radical. O problema é que Bolsonaro deixa Deus em má situação. Sonega aos contribuintes que lhe pagam os salários e as mordomias até a mais trivial das contrapartidas: cinco horas de expediente por dia.
Bolsonaro já não separa o presidente do candidato. A própria Michelle Bolsonaro devia estar meio confusa. Não sabia se acordava com o presidente ou com o candidato. Entretanto, depois que a primeira-dama aderiu à campanha o candidato passou a prevalecer sobre o presidente sem nenhum constrangimento. Não espanta que tenha dobrado o número de viagens presidenciais nos primeiros meses deste ano eleitoral de 2022 em comparação com o mesmo período do ano passado.
Desde janeiro, Bolsonaro passou 41 dias em viagem. Os deslocamentos consumiram quase 30% do seu tempo. O presidente transforma atos administrativos em comícios. Ornamenta o álbum de suas viagens com imagens de passeios a cavalo, no lombo de um jegue, em cima de motocicletas. Encaixa na agenda visitas a cultos religiosos.
Pela lei, a campanha eleitoral só começa em 16 de agosto. Mas Bolsonaro é candidato à reeleição desde 1º de janeiro de 2019, quando tomou posse. Usa a máquina do estado como se ela fosse sua. Faz isso porque os antecessores também fizeram e porque a Justiça Eleitoral é omissa.
Um presidente da República se obriga a dar pelo menos cinco horas de expediente por dia. Nesse intervalo, precisa ler relatórios, ouvir interlocutores e encaminhar a resolução de problemas. Bolsonaro abomina a leitura, não suporta auxiliares que lhe digam coisas que não quer ouvir e terceiriza todas as ruínas.
Embora tenha recebido da sociedade um mandato para ser solução, Bolsonaro tornou-se parte do problema. Mas as pesquisas indicam que algo como 30% do eleitorado se dispõe a desafiar Deus a provar que existe reelegendo Bolsonaro.
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