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Josias de Souza

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Sob Bolsonaro, imprensa apura as perversões que autoridades não investigam

Colunista do UOL

23/05/2022 11h31

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Há dois tipos de corrupção no Estado: a roubalheira e a subversão de prioridades. A corrupção de prioridades é evidente no caso do desvio de quase R$ 90 milhões do orçamento destinado a atenuar os efeitos da covid em populações rurais pobres para a compra de máquinas agrícolas, revelado pela Folha. Mas os indícios de que a perversão é mais profunda também são eloquentes. O escândalo pede uma investigação que todos sabem de antemão que não vai ocorrer.

No apagar das luzes de 2021, entre o Natal e o Ano Novo, o Ministério da Cidadania, então chefiado pelo deputado João Roma, comprou 247 tratores e outros tipos de máquinas agrícolas para beneficiar comunidades rurais às quais o governo Bolsonaro sonegou até cisternas. As máquinas foram escolhidas antes da definição das comunidades que as receberiam. Ou seja, o objetivo era a compra, não o suposto benefício social.

As máquinas já chegaram. O ministério já atestou o recebimento. Pressiona agora pelo pagamento. O diabo é que todo o maquinário permanece no pátio da empresa chinesa que fez a venda. O dinheiro caminha na frente dos tratores.

Esse mesmo tipo de compra foi feito aos montes pelo Ministério do Desenvolvimento Regional. A diferença é que, no novo escândalo, o dinheiro público não veio do orçamento secreto, mas de uma hipotética sobra do sempre deficitário caixa do Bolsa Família.

No domingo, o Estadão noticiou outra anomalia: a compra de caminhões de lixo superfaturados ao custo de R$ 109 milhões. Nesta segunda-feira, o jornal revelou que uma das aquisições traz as digitais de Ciro Nogueira, chefão da Casa Civil e do centrão. Coisa de R$ 240 mil.

O centrão está por trás de onze em cada dez desvios constatados sob Bolsonaro.

Uma das características mais marcantes da corrupção é que os corruptos estão sempre nos outros governos. A lorota de campanha mais repetida por Bolsonaro é a versão segundo a qual não há corrupção no atual governo.

Não há semana em que não surjam novas evidências de que o dinheiro do Orçamento federal continua saindo pelo ladrão. Isso ocorre porque ladrões continuam entrando no Orçamento.

A única diferença é que Bolsonaro comanda um governo mal investigado. Deve-se o fenômeno à anestesia aplicada na Polícia Federal e à blindagem fornecida pela Procuradoria-Geral da República.