Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Aumento da fome expõe a distância que separa o debate eleitoral do estômago
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A insegurança alimentar dos brasileiros mais pobres atingiu o nível de países africanos. A fome dobrou no Brasil nos sete anos que separam a recessão iniciada sob Dilma Rousseff em 2014 e a pandemia tratada como "gripezinha" por Bolsonaro em 2021. De acordo com pesquisa Gallup, destrinchada pelo Centro de Políticas Sociais do FGV, a precariedade alimentar brasileira superou pela primeira vez a média global. A taxa de insegurança saltou de 17% para 36%.
Simultaneamente, o repórter Carlos Madeiro informa que o Auxílio Brasil, versão mal ajambrada do Bolsa Família, deixou ao relento 2 milhões de famílias submetidas à extrema pobreza. Fica evidente que é grande, muito grande, enorme a distância que separa a retórica oficial e o debate eleitoral das necessidades do estômago.
Diante de dados tão sombrios sobre a fome, um presidente que reivindica a reeleição não deveria ousar aparecer para os brasileiros que trazem um espaço baldio entre o esôfago e o duodeno em outro formato que não fosse o de um prato de comida. Mas Bolsonaro oferece uma retórica oca em que pátria, Deus e família se misturam a ataques às urnas eletrônicas, caneladas em magistrados e distribuição de armas de fogo.
Um candidato que frequenta o topo das pesquisas como favorito à conquista de um terceiro mandato deveria respeitar a inteligência alheia oferecendo uma boa e definitiva análise autocrítica sobre a ruína econômica produzida sob a companheira Dilma. Mas tudo o que Lula ofereceu até o momento foi a previsão de que só falará a sério sobre economia depois da eleição.
Resta aos famintos trocar as alucinações que a falta de alimentos provocou a pelo sonho de alcançar um dia uma fome de presidente —do tipo que pode ser saciada abrindo a geladeira do Palácio da Alvorada, abastecida com todas as iguarias que o déficit público pode comprar.
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