Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Inflação e ódio de Bolsonaro viraram os principais cabos eleitorais de Lula
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A nova pesquisa do Datafolha apresentou a Bolsonaro a conta da ruína econômica e do destrambelhamento retórico. A inflação e o desemprego custaram ao presidente a ampliação da liderança de Lula entre os mais pobres, que decidem a eleição. O flerte com o golpismo resultou no confinamento do capitão no seu cercadinho radical. Bolsonaro adiou sua tradicional live das noites de quinta-feira para esta sexta-feira. Ganhou tempo para digerir dois números duros de roer: Lula abriu uma dianteira de 21 pontos. Alcançou 54% das intenções de votos válidos, o que lhe renderia uma vitória no primeiro turno se a eleição fosse hoje.
Bolsonaro leva uma surra de Lula entre os eleitores que mais sofrem com a crise econômica. No Nordeste, região mais pobre do país, a vantagem de Lula sobre Bolsonaro é de 45 pontos (62% a 17%). Em março, quando Sergio Moro e João Doria ainda estavam na disputa, essa diferença era de 35 pontos. Os eleitores nordestinos são, proporcionalmente, os que mais recebem o Auxílio Brasil, que passou a pagar R$ 400 reais em janeiro. Pois Lula prevalece sobre Bolsonaro entre os beneficiários do programa que substituiu o Bolsa Família com uma dianteira de 39 pontos (59% a 20%).
Entre os desempregados, Lula abriu 41 pontos de vantagem sobre Bolsonaro (57% a 16%).Num recorte que inclui o eleitorado com renda familiar mensal de até dois salários mínimos, a maioria do eleitorado, Lula está 36 pontos à frente de Bolsonaro (56% a 20%). De lambuja, Lula exibe 37 pontos de dianteira entre os jovens de 16 a 24 anos (58% a 21%). Nesse item, o Datafolha talvez tenha captado o efeito Anita —ou efeito Di Caprio—, que estimulou o eleitorado juvenil a requisitar o primeiro título de eleitor.
O que o Datafolha revela é que a inflação rosna para Bolsonaro e sorri para Lula. A pesquisa esfrega a realidade no discurso do presidente.
Faltam ao eleitor comida, dinheiro, trabalho e tranquilidade. Bolsonaro oferece armas, ataques a Alexandre de Moraes, perdão para o Daniel Silveira e intervenção na Petrobras. São coisas que não enchem a barriga nem o bolso de ninguém.
Lula joga com a memória dos seus dois mandatos, escondendo a ruína recessiva de Dilma Rousseff. O antipetismo ainda pulsa, mas a crise e a raiva de Bolsonaro viraram cabos eleitorais de Lula.
Numa eleição convertida em plebiscito sobre o resultado do governo, o presidente derrota a si mesmo. O nome do jogo é inflação. O apelido é carestia.
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