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Josias de Souza

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

No Brasil, impunidade é medida em quilômetros

Colunista do UOL

15/06/2022 09h54

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Aplicando a mesma legislação penal, a Polícia Federal chega a procedimentos diferentes no Amazonas e em Sergipe. No caso do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips, já foram requisitadas e obtidas as prisões temporárias de dois suspeitos. No episódio que envolve Genivaldo de Jesus Santos, assassinado num camburão de gás, os três agentes rodoviários federais que participaram da execução continuam soltos. O acerto das prisões decretadas no Amazonas realça o equívoco da leniência observada em Sergipe.

Bruno e Dom são personagens de um sumiço macabro com indícios de um desfecho letal. Amarildo e Oseney Oliveira, os suspeitos presos no Amazonas foram colocados no local do provável crime por duas testemunhas. Os policiais que mataram Genivaldo —Kleber Nascimento Freitas, Paulo Rodolpho Lima Nascimento e William de Barros Noia— foram flagrados na cena do crime por uma pequena multidão de testemunhas e por um vídeo captado pela câmera do celular de um dos presentes.

No Amazonas, as prisões foram requisitadas sob o argumento de que os indícios de crime são fortes. Em Sergipe, a filmagem tornou o assassinato incontroverso. Mas um pedido de prisão feito pelo advogado da família do morto foi negado pela Justiça Federal sob a alegação de que, na fase de investigação, apenas a polícia ou o Ministério Público poderiam requisitar a prisão. E as autoridades não esboçam a intenção de agir.

Dois outros detalhes distanciam a tragédia do Amazonas do flagelo de Sergipe: a floresta e a eleição. A preocupação com o meio ambiente e o respeito pelo trabalho que Bruno e Dom desenvolviam para preservá-lo atraem as atenções do mundo. O prejuízo que a má repercussão impõe à campanha de Bolsonaro leva as forças federais a fazer por pressão o que hesitavam em realizar por opção.

Genivaldo era apenas um brasileiro pobre e esquizofrênico que pilotava uma moto sem capacete nos fundões áridos de Sergipe. Os dois casos dizem muito sobre o Brasil, um país em que a distância entre a punição e a impunidade independe da lei e pode ser medida em quilômetros.