Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Jantar pago pelo déficit público reúne em Brasília magistrados e suspeitos
Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail
O único lugar em que magistrados e suspeitos deveriam se encontrar é nas páginas dos processos judiciais. Fora disso, os dois lados deveriam viver separados para sempre, até que a morte os juntasse. Desafiando a lógica, o réu Arthur Lira ofereceu na residência oficial da presidência da Câmara um jantar em homenagem aos 20 anos da chegada de Gilmar Mendes ao Supremo Tribunal Federal.
Reuniram-se no mesmo ambiente Bolsonaro e o ministro Alexandre de Moraes, que conduz investigações contra o presidente e é chamado de "canalha" por ele. Serviram-se também da comida e da bebida financiadas pelo déficit público, além do anfitrião Lira e do decano Gilmar, outras duas togas —Ricardo Lewandowski e Dias Toffolli— e representantes da fina flor do foro privilegiado. Por exemplo: Ciro Nogueira (Casa Civil), Anderson Torres (Justiça), Rodrigo Pacheco (PSD) e Aécio Neves (PSDB).
Magistrados que confraternizam com um personagem como Bolsonaro, que se esmera em desqualificar o Supremo e seus integrantes, confundem institucionalidade com avacalhação.
Em agosto, começam a campanha eleitoral e a gestão de Alexandre de Moraes no comando do TSE. Ao dividir a mesa com um candidato à reeleição que desqualifica as urnas, Moraes sinaliza que sua promessa de enviar para a cadeia quem subverter o processo eleitoral vale apenas até certo ponto. O ponto de interrogação.
De resto, políticos que se lambuzam no orçamento secreto e tramam virar a Lei das Estatais do avesso para voltar a plantar bananeira dentro de companhias como a Petrobras não deveriam receber senão intimações para interrogatórios. Quando recebem tapinhas nas costas e apertos de mão, tornam-se candidatos à impunidade.
Noutras circunstâncias, a falta de recato seria apenas ultrajante. Num instante em que o país assiste à prisão de um ex-ministro da Educação, num momento em que o brasileiro rala uma crise econômica que faz com que sobre mês no fim do salário, numa hora em que a fome infelicita 33 milhões de pessoas... Numa ocasião assim, jantares como o repasto oferecido por Lira são eventos abjetos.
A Brasília do Poder tornou-se uma abjeção.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.