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Josias de Souza

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Presidente assediador da Caixa é exonerado pela campanha, não por Bolsonaro

Colunista do UOL

29/06/2022 09h17

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Pior do que uma crise, só duas crises. Os operadores políticos de Bolsonaro estavam atrás de um fato positivo que desviasse a atenção da imprensa e da opinião pública do escândalo do MEC. De repente, caíram sobre o telhado do comitê da reeleição as denúncias de assédio sexual feitas por funcionárias da Caixa Econômica Federal contra o presidente da instituição, Pedro Guimarães. Bolsonarista de mostruário, frequentador emérito das lives presidenciais, Guimarães foi demitido pelo aparato de campanha, não por Bolsonaro.

Após ouvir observações de membros do seu staff político sobre o estrago que seria produzido na campanha se Guimarães permanecesse no cargo, Bolsonaro conversou com chefão da Caixa. Combinou-se que ele deixaria o cargo rapidamente. A Caixa cancelou entrevista que o acusado concederia nesta quarta-feira para lançar o plano de financiamento da safra agrícola. Num caso como esse, o afastamento é o básico. O primordial é a punição. O caso já se encontra sob apuração do Ministério Público Federal, em Brasília.

Gravadas em vídeo pelo repórter Rodrigo Rangel, cinco funcionárias da Caixa relataram o assédio que sofreram de Pedro Guimarães. As abordagens ocorriam sobretudo em viagens de trabalho. Foram agarradas, apalpadas, convidadas para programas sexuais. O assédio é crime previsto no Código Penal. O superior hierárquico que se vale de sua condição funcional para obter favores sexuais mediante constrangimento é o caso mais clássico.

A pena máxima é mixuruca: 2 anos de reclusão. Mulheres que se animam a denunciar devem ser louvadas. Elas não lutam apenas contra o agressor. Brigam com uma cultura machista, que trata como normal o que é abjeto. O efeito cenográfico pretendido com o rápido afastamento de Pedro Guimarães do cargo tende a evaporar se não for acompanhado de declarações de Bolsonaro repudiando o crime em termos convincentes.

Essa é a parte mais difícil para Bolsonaro, um personagem que, como deputado, disse que não estupraria uma colega porque ela era feia. No Planalto, o capitão tenta sem sucesso conciliar duas necessidades conflitantes: ser Bolsonaro e preservar a decência que o cargo de presidente impõe.