Topo

Josias de Souza

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Debate de SP foi uma feijoada com pouco feijão

Colunista do UOL

08/08/2022 09h40

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

O primeiro debate televisivo da campanha ao governo de São Paulo, transmitido pela Band, provocou sono e surpresa. Foi sonolento porque os postulantes ao comando do principal estado do país disseram coisas definitivas sobre os problemas sem definir muito bem as coisas. Foi surpreendente porque, embora estejam submetidos à conjuntura extraordinária de 2022, os candidatos se apresentaram aos eleitores como personagens mecanicamente ordinários.

As aflições do eleitorado estavam todas lá: saúde, educação, moradia, transporte, segurança. Mas os debatedores levaram à panela uma espécie de feijoada com muito caldo e pouco feijão. Carne, nem pensar. Ignorando a crise, acionaram o gogó como se não existisse orçamento, tudo pudesse ser resolvido com um grande abracadabra.

Para fustigar Haddad, Tarcisio aconselhou uma busca no google: "O pior prefeito de São Paulo". Em resposta, o rival poetista lembrou que, passando no google a palavra "genocida", a plateia chegaria a Bolsonaro e às mortes da pandemia. Rodrigo Garcia, o tucano postiço que divide a segunda colocação com Tarcísio, disse que não quer para São Paulo "essa briga" entre esquerda e direita. Brigou com a lógica ao fugir do vínculo com João Doria, o padrinho que o trouxe do falecido DEM, para transformá-lo em candidato favorito a interromper a hegemonia de 28 anos de poder tucano em São Paulo.

Autoconvertido em franco-atirador, o candidato do Novo, Vinicius Poit, pediu ao candidato de Bolsonaro que explicasse a aliança com "bandidos" do porte de Eduardo Cunha e Valdemar Costa Neto. Tarcísio se escondeu atrás de sua fama de técnico. Haddad encostou o malufismo na biografia de Garcia sem se dar conta de que já mendigou o apoio de Paulo Maluf na sua campanha para prefeito.

Além de lama e do ilusionismo de praxe, os candidatos serviam à plateia uma alienação hedionda sobre os riscos que rondam a democracia brasileira. Foi como se habitassem um país paralelo. O grande vitorioso do debate foi o eleitor que preferiu dormir mais cedo.