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Josias de Souza

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Espremido em debate, Castro lida com escândalo no Rio à maneira do avestruz

Colunista do UOL

08/08/2022 10h16

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Num estado como o Rio de Janeiro, onde cinco ex-governadores já fizeram escala na cadeia, é desalentadora a constatação de que a grande estrela do debate entre os postulantes ao governo foi o caso Ceperj, escândalo revelado por uma série de reportagens do UOL. Candidato à reeleição, o governador Cláudio Castro enfrentou à moda do avestruz o questionamento sobre a folha salarial secreta que desviou R$ 226 milhões em verbas públicas para remunerar apaniguados de políticos. Espremido, Castro enfiou a cabeça no cinismo.

No auge do constrangimento, Marcelo Freixo, principal desafiante de Castro, pediu que ele explicasse se é "culpado" ou "incompetente" pela remuneração de fantasmas com uma verba que cobriria o déficit da folha de professores do estado. O governador utilizou como um dos mais eloquentes indícios do crime —o saque na boca do caixa— como álibi: "Não existe fantasma se a pessoa tem que ir ao banco receber", disse Castro. "Todos tiveram que dar nome e CPF. Fantasma seria se você não tivesse que ir ao banco."

Num esforço para nacionalizar o debate, Freixo realçou durante o debate seus vínculos com Lula. E encostou em Castro a precariedade da Presidência de Bolsonaro. O governador se absteve de defender o presidente, seu suposto aliado.

Candidato do PDT, Rodrigo Neves também evitou mencionar o nome de Ciro Gomes, o presidenciável do seu partido. Preferia estar vinculado a Lula. Numa evidência de que a esquerda vai às urnas dividida, Neves fez dobradinha com Castro para atacar Freixo.

Herdeiro da política de segurança do governador deposto Wilson Witzel, baseada na doutrina do "tiro na cabecinha", Castro tratou de confundir o apreço de Freixo pelos direitos humanos com uma hipotética defesa de marginais.

Noutro momento, Freixo chegou a pedir direito de resposta quando Neves, o candidato do PDT questionou o que chamou de ação "em favor dos black blocs" nas manifestações que sacudiram o país na célebre jornada de 2013.

Como a mediocridade não costuma virar votos, cada tribo tende a enxergar no seu candidato a figura de um vitorioso. Entretanto, ficou no ar uma dúvida: Quem ganha um debate medíocre é melhor ou pior do que quem perde?