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Oportunidade bate à porta de Bolsonaro, e o presidente reclama do barulho
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A oportunidade bateu à porta de Bolsonaro no instante em que docentes da USP e empresários da Fiesp começaram a articular manifestos em defesa da democracia e do Estado de Direito. Podendo se reposicionar em cena, o presidente preferiu reclamar do barulho e seguir em frente. Um acerto dificilmente pode ser melhorado. Mas um erro sempre pode ser piorado. O presidente reincidiu no equívoco ao tentar, sem sucesso, retirar deste 11 de agosto de 2022 o selo de dia histórico.
A "cartinha" que teve origem na USP ultrapassou a marca cabalística de 1 milhão de subscritores. Nem seus idealizadores esperavam que a carta em defesa da democracia atrairia mais adeptos do que o texto análogo, de resistência à ditadura, lido por Gofredo da Silva Telles Júnior em 1977.
O texto coordenado pelos "mamadores" da Fiesp foi endossado por 107 entidades. Entusiasta da peça, o ex-ministro José Carlos Dias realçou o ineditismo: "Capital e trabalho estão juntos em defasa da democracia". Soou modesto. A adesão ultrapassou os limites das fábricas e dos sindicatos. Arrastou estudantes e cientistas.
Lidos nesta quinta-feira no largo de São Francisco, em São Paulo, os textos ecoaram em universidades ao redor do país. Bolsonaro e seus ministros reagiam ao movimento suprapartidário com ironia e desdém.
O presidente fez menção nas redes sociais a um "ato importante em prol do Brasil e de grande relevância para o povo brasileiro". Referia-se à nova redução no preço do diesel. Os ministros e os filhos de Bolsonaro o imitaram na ironia, desqualificando o movimento pró-democracia.
O menosprezo aos manifestos e aos seus apoiadores revelou-se um equívoco primário. A melhor hora para mudar é antes que a mudança seja necessária. Bolsonaro desperdiçou sua última hora. Ao desmerecer reivindicações tão comezinhas quanto o respeito às urnas e às instituições, o presidente apenas reforçou a necessidade dos manifestos que não conseguiu desqualificar.
O ato do Largo de São Francisco, reedição do grito de resistência que soou há 45 anos, chega a 52 dias da eleição. Foi detonado a partir do encontro em que Bolsonaro reuniu sete dezenas de embaixadores no Alvorada para informar ao mundo que o Brasil tornara-se uma República sui generis, presidida por um presidente que considera fraudulentas as urnas que o elegeram.
Neste 11 de agosto, o país ofereceu ao estrangeiro imagens mais edificantes do Brasil. Submetida ao excesso de delírio de Bolsonaro, a sociedade brasileira redescobriu o amor pela realidade. Há uma fome de democracia no ar.
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