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Josias de Souza

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Mendonça revelou-se terrivelmente vassalo

Colunista do UOL

12/08/2022 10h52

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Bolsonaro dispensa os pudores quando informa o que espera dos seus indicados para o Supremo Tribunal Federal. Referiu-se a Kassio Nunes Marques como "10% de mim dentro do Supremo". Com a toga sobre os ombros, Kassio deixa o padrinho 100% satisfeito. Após indicar André Mendonça, o capitão refez a conta: "Tem dois ministros que representam 20% daquilo que gostaríamos que fosse decidido e votado". Tropeçou nos números, pois os dois afilhados valem 18% da Corte. Mas acertou no prognóstico. Mendonça revela-se terrivelmente vassalo.

Ao suspender no plenário virtual do Supremo o julgamento de 20 recursos que questionam decisões tomadas por Alexandre de Moraes em inquéritos estrelados por Bolsonaro, Mendonça fez dois favores ao ex-chefe: 1) Livrou Bolsonaro de amargar uma derrota judicial às vésperas do início formal da campanha eleitoral, marcado para a próxima terça-feira (16). De quebra, permitiu ao ex-chefe continuar ostentando a pose de vítima de uma perseguição de Moraes. Se os recursos caíssem no plenário, o capitão teria de brigar com o Supremo, não com Moraes.

Para chegar ao Supremo, Mendonça teve de medir forças com o procurador-geral da República Augusto Aras. Ambos se esmeraram nos serviços prestados ao inquilino do Planalto. Mas Mendonça contou com uma aliada estratégica. Terrivelmente evangélica como ele, a primeira-dama Michelle Bolsonaro fez campanha doméstica pela indicação. Em privado, Bolsonaro brinca que sua mulher deixaria de dormir com ele se não escolhesse Mendonça.

A indicação para o Supremo não é garantia de fidelidade. Ministros como Joaquim Barbosa, Ayres Britto e Cezar Peluso, indicados por Lula, foram draconianos com o petismo no julgamento do mensalão. Ajudaram a enviar a cúpula do PT e seus financiadores para o presídio da Papuda. Indicados por Dilma Rousseff, Edson Fachin e Luis Roberto Barroso eram vistos como aliados da Lava Jato.

Kassio Nunes Marques foi escolhido menos pelo currículo do que pelas doses de "tubaína" que dividiu com Bolsonaro no Alvorada. Imaginou-se que André Mendonça poderia surpreender. Deu-se, por ora, o oposto. Atua como escudo de Bolsonaro, um presidente com muitos interesse a defender no Supremo.