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Seções eleitorais viraram Capitólio de Bolsonaro
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Após votar no primeiro turno das eleições, o presidente do Tribunal Superior Eleitoral, ministro Alexandre de Moraes, fez uma constatação e uma conclamação: "Nós temos certeza que no final do dia teremos já os resultados com tranquilidade. Peço ao eleitor que compareça, vote e volte para casa, vá almoçar, depois à tarde aproveite o domingo". Para o segundo turno, Bolsonaro fez um chamamento diferente para os seus devotos:
"No próximo dia 30, de verde e amarelo, vamos votar. E mais do que isso. Vamos permanecer na região da seção eleitoral até a apuração do resultado", disse o presidente nesta terça-feira, na cidade gaúcha de Pelotas. Ele usou microfones e lentes da imprensa para chegar aos ouvidos dos seus eleitores.
Foi como se o capitão, farejando o risco de derrota, encomendasse aos seguidores uma resistência semelhante àquela que fizeram os seguidores de Donald Trump, nos Estados Unidos. Insuflados por Trump, que se recusava a aceitar a derrota para o rival Joe Biden, arruaceiros invadiram o Capitólio, sede do Parlamento americano, em 6 de janeiro de 2021. Deixaram um rastro de quebradeira e cinco mortes.
"Peço humildemente que meus eleitores permaneçam nas seções eleitorais até a apuração final dos votos", declarou Bolsonaro, antes de insinuar novamente que não aceitará das urnas senão a própria vitória. "Tenho certeza de que o resultado será aquele que esperamos. O outro lado não consegue reunir ninguém. Como pode aquele cara ter votos se o povo não está a seu lado?".
O plenário do TSE parecia farejar o enxofre da pólvora quando proibiu, no mês passado, o porte de armas nas seções eleitorais e no perímetro de 100 metros nas 48 horas que antecedem o pleito e nas 24 horas seguintes. Prevaleceu por unanimidade o voto do relator Ricardo Lewandowski.
No texto, Lewandowski citou o episódio do Capitólio como algo a ser evitado no Brasil. Criticou a proliferação do número de armas de fogo em posse de Caçadores, Atiradores e Colecionadores, os chamados CACs. Não restou dúvida de que o objetivo do TSE era o de conter eventuais excessos de Bolsonaro e dos seus seguidores.
O presidente voltou a insinuar, desde a semana passada, que o sistema eleitoral brasileiro é inconfiável. O teste de integridade feito nas urnas do primeiro turno revelou o contrário. Mostraram-se invulneráveis inclusive as urnas testadas no dia da eleição, com a participação de eleitores que concordaram em ceder suas digitais para o teste com biometria, como haviam sugerido as Forças Armadas.
Os próprios militares concluíram, a partir da inspeção que fizeram numa amostra de 385 boletins de urna, que o resultado do primeiro turno foi fidedigno. Lula obteve 48,4% dos votos válidos. Bolsonaro, 43,2%.
Notícia veiculada pelo Globo informa que Bolsonaro vetou a divulgação de relatório com as conclusões das Forças Armadas. Prefere continuar destilando na conjuntura dúvidas infundadas sobre urnas, como faz desde 2018.
As urnas eletrônicas operam há 26 anos. Nesse período, contabilizaram as vitórias de Fernando Henrique Cardoso, Lula, Dilma Rousseff e do próprio Bolsonaro. Tomado pelos resultados, o sistema eleitoral brasileiro revelou-se, de fato, viciado. Adquiriu o vício da alternância no poder.
Suprapartidárias, as urnas eletrônicas já premiaram presidentes de centro, de esquerda e de ultradireita. Acabam de presentear o PL, partido de Bolsonaro, com a eleição das maiores bancadas no Câmara e do Senado. A legenda tornou-se majoritária nas duas casas legislativas. A versão bolsonarista do Capitólio não faz nexo.
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