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Lula se finge de morto, Supremo demora a agir e orçamento secreto sobrevive
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Em encontro com empresários do setor atacadista, Arthur Lira, chefão da Câmara e do centrão, disse que seria um erro eliminar o orçamento secreto, que ele chama de "municipalista". Alega que os parlamentares têm apreço por seus eleitores e conhecem os municípios. Por isso, teriam mais autoridade do que o Executivo e seus ministros para decidir onde e como aplicar as verbas federais. O argumento é pueril. Carrapato também é interessado em bois e vacas. E todos sabem o porquê. Querem o sangue do gado.
A proposta de orçamento federal para 2023 reserva notáveis R$ 19,4 bilhões para as emendas secretas. Lira voltou a defender que o pagamento seja impositivo. A certa altura, a pretexto de reforçar a tese de que parlamentares teriam mais legitimidade para cuidar da verba, Lira declarou: "Conheço muito o interior do Nordeste porque eu andava muito fazendo vaquejada. O ministro não tem essa sensibilidade."
É fácil falar em nome do povo. Ele não tem voz. O carrapato também conhece o dorso e as reentrâncias do seu hospedeiro. Se pudesse falar, o gado decerto reprovaria uma regra que o obrigasse a entregar graciosamente o próprio sangue.
O orçamento secreto tem uma transparência de copo de requeijão. Falta equidade. Congressistas amigos recebem mais. O destino das verbas é a malversação por meio de autarquias como a Codevasf e órgãos como o FNDE. Interessado em arrancar do Congresso uma licença para gastar, Lula se finge de morto. O Supremo Tribunal Federal demora a declarar a inconstitucionalidade da aberração.
Há algo mais escandaloso do que os próprios escândalos: o fato de as pessoas se acostumarem com o escândalo. É o que acontece com o orçamento secreto. Em campanha, Lula disse que jogaria luz sobre a excrescência. Agora, emissários da transição negociam com Lira a manutenção do pus.
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