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Ao endossar o golpismo de Bolsonaro, Valdemar meteu-se num pesadelo
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Ficou fácil identificar os políticos do PL, do PP e do Republicanos no Congresso Nacional. Os membros da tríade do centrão são aqueles que, nas rodinhas de conversa, dedicam-se a falar mal de Valdemar Costa Neto. O personagem tornou-se uma rara unanimidade negativa. Generalizou-se entre os correligionários e aliados avaliação de que o dono do PL entrou em processo de autocombustão ao se associar à estratégia de Bolsonaro de contestação do resultado da eleição presidencial.
Os questionamentos ao comportamento de Valdemar intensificaram-se depois que Alexandre de Moraes, presidente do TSE, condenou toda coligação bolsonarista ao pagamento de multa de R$ 22,9 milhões por litigância de ma-fé. Os parceiros do PP e do Republicanos apressaram-se em isolar Valdemar. Num recurso protocolado na Corte eleitoral, informaram que o dono do PL não dispunha de procuração para enfiar as siglas na ação que questionou a segurança de parte das urnas usadas, exclusivamente, no segundo turno da disputa presidencial.
Moraes deferiu o recurso nesta sexta-feira. Na sua decisão, o presidente do TSE anotou que PP e Republicanos esclareceram, de forma inequívoca, "que reconheceram publicamente por seus dirigentes a vitória da Coligação Brasil da Esperança [encabeçada por Lula], conforme declarações publicadas na imprensa". O ministro acrescentou que os parceiros de Valdemar deixaram claro que, "em momento algum, questionaram a integridade das urnas eletrônicas, diferentemente do que foi apresentado única e exclusivamente pelo Partido Liberal".
Ao determinar a exclusão de PP e Republicanos da ação, Moraes determinou o levantamento do bloqueio que havia imposto às contas do fundo partidário das duas legendas. Simultaneamente, manteve "a condenação por litigância em má-fé única e integralmente em relação ao Partido Liberal". Que dizer: a multa que deveria ser paga solidariamente por três legendas passou a sufocar apenas o partido ao qual Bolsonaro está filiado. Uma agremiação que Valdemar controla como cartório.
A marola de questionamentos a Valdemar tornou-se uma onda de críticas que engolfou também os correligionários do PL. Inflado pelos congressistas eleitos na aba de Bolsonaro, o partido se equipava para usufruir, a partir da legislatura que será inaugurada em 2 de fevereiro de 2023, de um fundo partidário engordado pelas urnas. Sob os efeitos do torniquete financeiro imposto por Moraes, o PL rachou. A banda bolsonarista ataca Moraes. O pedaço não alinhado com o presidente flerta com Lula e submete Valdemar, nos bastidores, a um intenso fogo amigo.
A fome com que os parlamentares da direita avançam sobre Valdemar revela que a autofagia deixou de ser uma doença da esquerda. Até a semana passada, o hierarca do PL era exaltado como um dos mais hábeis administradores dos negócios partidários. Agora, é tratado como um gestor temerário da caixa registradora que financia as atividades da legenda. Antigos parceiros de Valdemar comportam-se como herdeiros da fúria canibal dos índios caetés, que comeram o bispo Pero Fernandes Sardinha no ano de 1556, no litoral de Alagoas.
Às voltas com um inusitado processo de autofagia, o dono do PL é pressionado a recorrer contra a decisão de Moraes. Mas Valdemar, já bem mastigado, hesita. Afora a imposição da multa milionária e do bloqueio do caixa partidário, Valdemar foi incluído pelo presidente do TSE no polo passivo do inquérito sobre milícias digitais. Um processo que corre no Supremo Tribunal Federal sob a relatoria do próprio Moraes. Ex-presidiário do mensalão, o dono do PL passou a conviver com o medo de retornar à cadeia. Estima-se que o caso das milícias ganhará novo impulso depois que Bolsonaro deixar o Planalto.
Ao se associar ao golpismo de Bolsonaro, Valdemar meteu-se num pesadelo do qual tem dificuldades para acordar.
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