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Moraes leva pedrada de doido porque tratou coisa séria como mera maluquice
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Falando por videoconferência para uma plateia em Lisboa, Alexandre de Moraes confirmou ter recebido Marcos do Val em 14 de dezembro. Tratou como mera maluquice cômica o relato que ouviu do senador bolsonarista sobre a conspiração urdida por Bolsonaro e o ex-deputado Daniel Silveira para grampeá-lo com o propósito de promover uma virada de mesa. Absteve-se de tomar providências. Decorridos 50 dias, Moraes descobriu o valor de um antigo provérbio português segundo o qual "ninguém se livra de pedrada de doido e de coice de burro" —nem mesmo um ministro do Supremo e presidente do TSE.
Com atraso hediondo, Moraes abriu nesta sexta-feira investigação contra Marcos do Val. Antes, chamou a trama de "Operação Tabajara", cujo amadorismo "mostra o quão ridículo nós chegamos na tentativa de um golpe no Brasil". O ministro ironizou "a ideia genial que tiveram de colocar uma escuta no senador para que ele pudesse me gravar". De fato, o bolsonarismo prova cotidianamente que a diferença entre a genialidade e a burrice é que a genialidade tem limites. Mas não é menos precário o magistrado que, percebendo que lidava com malucos de inteligência curta, se manteve por quase dois meses na incômoda condição de alvo de pedradas e coices.
Moraes alega que recebeu Marcos do Val apenas uma vez. Seu interlocutor diz que esteve com ele antes e depois da conversa com Bolsonaro e Daniel Silveira. O ministro sustenta que perguntou ao senador se ele faria um depoimento formal. Diante da recusa, decidiu dar de ombros. "O que não é oficial para mim não existe", afirmou Moraes à plateia de Lisboa. Nada mais equivocado. Cabia ao ministro formalizar numa investigação o que jamais poderia ter permanecido por um segundo sequer na informalidade.
Como já era previsto, Do Val evoluiu da posição de pretenso traidor do bolsonarismo para a condição de suposto doido. Anunciou nesta sexta-feira que pediria à Procuradoria o afastamento de Moraes da relatoria dos inquéritos contra atos golpistas. Entre eles o que é estrelado por Bolsonaro. Uma maluquice que é vedada pelo Código de Processo Penal nos casos em que a suspeição do juiz é fabricada pela parte interessada no caso.
Além do inquérito aberto com atraso por Moraes, os senadores precisam levar Marcos do Val para o banco do Conselho de Ética. É preciso cassar o mandato do qual Do Val desistiu de renunciar. No Império Romano, houve um senador de estirpe parecida que fez muito sucesso. Chamava-se Incitatus. Mas tinha mais glamour do que o senador cavalgado por Bolsonaro. E não há notícia de que o preferido de Calígula distribuísse coices.
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