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Josias de Souza

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Agronegócio demora a acordar para os efeitos nocivos da ação do ogrocentrão

Presidente do grupo de trabalho da reforma tributária afirma que agronegócio não precisa temer aumento de impostos. Foto: Can Europe/Flickr
Imagem: Presidente do grupo de trabalho da reforma tributária afirma que agronegócio não precisa temer aumento de impostos. Foto: Can Europe/Flickr

Colunista do UOL

27/05/2023 02h57

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Entre todos os movimentos que se seguiram à desidratação promovida pela bancada ruralista do Congresso no organograma das pastas do Meio Ambiente e dos Povos Indígenas, o mais surpreendente é a inação da banda muda do moderno agronegócio brasileiro. Na prática, a investida ideológica do ogrocentrão contra as ministras Marina Silva e Sonia Guajara restaura o "projeto pária" cultivado com orgulho pela gestão Bolsonaro. O sucesso dessa empreitada devolverá o Brasil à posição de saco de pancadas do mundo, oferecendo matéria-prima para todos os que desejam manusear o fator ambiental para boicotar as exportações dos agronegociantes sérios e competitivos do Brasil.

No próximo dia 12 de junho chega a Brasília a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen. Ela é obcecada pela agenda ambiental e admira a biografia sem pesticidas de Marina Silva. Na conversa de madame com Lula, o ponto central será o acordo comercial do Mercosul com a União Europeia, condicionado a pendências ambientais. Nesse contexto, a ação deletéria do Congresso leva água para o moinho dos produtores agrícolas europeus que conspiram contra o fechamento do acordo comercial por temer a concorrência brasileira. Ou o agronegócio brasileiro acorda ou seu silêncio será confundido com adesão à pauta neandertal do Legislativo.

A tentativa de passar a boiada sobre o cocar da ministra Sandra Guajajara tampouco orna com os interesses dos agroempresários brasileiros. A carne exportada pelo Brasil nada tem a ver com as aldeias. O avanço da pecuária ou da mineração em terras indígenas não serve senão à causa do boicote à produção nacional no exterior.

Embora não goste de Lula, o grosso do agronegócio reconhece que o retorno do líder petista ao Planalto restaurou um ambiente propício às transações comerciais. Por isso, os agronegociantes mais antenados tomaram distância estratégica do ruralismo retrógrado com assento no Congresso. Entretanto, se a movimentação dos últimos dias serviu para alguma coisa foi para mostrar que o atraso continua dando as cartas em Brasília. Está entendido que o Planalto não dispõe de força para se impor no Legislativo.

Por enquanto a bancada avessa aos valores civilizatórios prevaleceu apenas numa comissão especial incumbida de destrinchar a medida provisória que reorganizou a Esplanada de Lula. Falta o pronunciamento dos plenários do Congresso. Em teoria, ainda haveria tempo para uma reação. Mas esse tempo é curto. A medida provisória perde a validade em 1º de junho. E já se ouve o barulho do trator de Aurthur Lira no plenário da Câmara. O bom senso recomendaria ao agronegócio uma reação qualquer. Quem sabe uma nota de repúdio. Ou pelo menos uma cara de nojo.