Josias de Souza

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Fazendeiro no agrouniverso, Lira ocupa Orçamento como posseiro

O excesso de poder econômico e político dá a Arthur Lira a inusitada aparência de um centauro. Mantém a cabeça lá em cima, na formação de um patrimônio limpinho e na defesa dos mais altos valores da economia de mercado, e os pés bem lá embaixo, enfiados no lodo do fisiologismo parlamentar. Muitos imaginam que os negócios do agroempresário não ornam com as negociatas do congressista. Mas há harmonia na combinação.

No agrouniverso, Lira é um próspero fazendeiro, criador de gado geneticamente evoluído. Tem raízes plantadas em Alagoas. Mas sua prosperidade transborda para outros estados. Não precisou de escritura para desalojar uma família de posseiros do Engenho Proteção, na cidade pernambucana de Quipapá. Bastou um reles compromisso de compra e venda firmado há 15 anos.

Em Brasília, Lira troca de figurino. Nos bastidores do Congresso, ele vira posseiro. Ocupa o Orçamento federal como se dispusesse de direito à posse por usucapião. No momento, esvazia uma iniciativa do relator da Lei de Diretrizes Orçamentárias, Danilo Forte. Ele tramava criar uma modalidade nova de emenda orçamentária: a emenda de bancadas partidárias.

Lira enxergou na iniciativa uma transferência de poder do seu gabinete para as salas dos líderes dos partidos. E o deputado Danilo Forte descobriu-se fraco. O imperador da Câmara convence os líderes de que é melhor turbinar as emendas já existentes, que somam R$ 35,8 bilhões no Orçamento deste ano. De emenda em emenda, o Lira posseiro vai tornando mais próspero o Lira fazendeiro. O Engenho Proteção, cuja posse foi obtida judicialmente, não foi declarado à Justiça Eleitoral. Mas para quem já gerenciou o orçamento secreto, uma propriedade oculta é mero asterisco.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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