Haddad está forte, até o próximo soluço de Lula ou rasteira do Rui

Em Brasília, a lógica é apenas um método sistemático de chegar a conclusões erradas com enorme grau de confiança. O Planalto anunciou que a meta de zerar o déficit fiscal em 2024 continua em pé. Uma mente cartesiana concluiria que Fernando Haddad, defensor ardoroso do respeito à meta, está forte, muito forte, fortíssimo. As almas menos metódicas notarão que a força Haddad vai durar até o próximo soluço de Lula. Ou a próxima rasteira de Rui Costa, o tocador de obras da Casa Civil.
O mundo sabe que o governo não conseguirá fechar as contas no azul no próximo ano. Mas Haddad também não ignora que, abrindo-se agora a porteira, a busca por arrecadação extra daria lugar ao gasto desenfreado de um dinheiro que não existe. Haddad precisa arrumar R$ 168 bilhões em receitas novas para realizar o seu sonho. Como sabe que isso não será possível, o ministro adiou para março a realização do seu pesadelo.
Há três semanas, Lula declarou que "nós dificilmente chegaremos à meta". Disse que o resultado fiscal de 2024 "não precisa ser zero". Afirmou que um buraco de 0,5% do PIB nas contas nacionais —coisa de R$ 60 bilhões— é "nada". Ou seja: Lula também não acredita que Haddad conseguirá cavar no Congresso os bilhões de que precisa. Logo, haverá déficit. O novíssimo marco fiscal ilumina o caminho: falhando a meta, entra em cena a tesoura.
Hoje, as estimativas de corte para oscilam entre R$ 23 bilhões a R$ 53 bilhões. O diabo é que Lula ainda não desdisse o raciocínio segundo o qual não tem compromisso com uma meta que o "obrigue a começar o ano fazendo um corte de bilhões nas obras." Ao contrário, disse posteriormente que dinheiro bom é aquele que é aplicado em obras, não o que permanece entesourado.
Divergências internas ocorrem em qualquer governo. Quando elas surgem, cabe ao presidente, que está ao volante, definir o itinerário que deseja impor à sua administração. O problema é que Lula fez uma opção preferencial pela ambiguidade. Ele finge prestigiar a meta de Haddad enquanto dá mão forte a Rui Costa para deslanchar as obras do PAC.
Quem está habituado às mumunhas do Poder começa a cochichar em voz baixa para os seus botões: "Penso, logo Descartes e a força de Fernando Haddad não existem."
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