Em reação correta, Lula oferece relação pragmática a Javier Milei

Em postagem curta e fria, Lula levou às redes sociais um posicionamento adequado sobre o resultado da eleição presidencial na Argentina. Absteve-se de mencionar o nome de Javier Milei, que o chamou de "corrupto" durante a campanha. Mas desejou "boa sorte e êxito ao novo governo". E realçou que "o Brasil sempre estará à disposição para trabalhar junto com nossos irmãos argentinos".
Na prática, Lula sinalizou para Milei a intenção de estabelecer um relacionamento pragmático. Preferia a vitória de Sergio Massa. Mas rendeu homenagens à máxima segundo a qual países não têm amigos, têm interesses. No seu primeiro pronunciamento como presidente eleito, Milei não fez uma mísera referência ao Brasil, maior parceiro comercial da Argentina.
Lula cogitou esperar pela manifestação inaugural de Milei antes de se posicionar publicamente. Decidiu adiar para esta segunda-feira a decisão de telefonar ou não para o vitorioso. Mas avaliou que seria conveniente reconhecer a legitimidade da vitória do agressor. Em vez de parabenizar Milei, congratulou-se com a sociedade e as instituições do vizinho.
"A democracia é a voz do povo, e ela deve ser sempre respeitada", anotou Lula. "Meus parabéns às instituições argentinas pela condução do processo eleitoral e ao povo argentino que participou da jornada eleitoral de forma ordeira e pacífica."
A posse de Milei será em 10 de dezembro. Três dias antes, o Brasil sediará uma cúpula do Mercosul. Num cenário ideal, Milei indicaria um representante para acompanhar o presidente Alberto Fernández, em fim de mandato. Mas o bombardeio ao Mercosul foi um dos motes da campanha de Milei, que acenou com a hipótese de retirar a Argentina do bloco.
Na última terça-feira, Lula injetou uma referência ao Mercosul no programa "Conversa com o Presidente". Disse meia dúzia de palavras ensaiadas sobre a disputa eleitoral na Argentina. Ainda cultivava o desejo de que Sergio Massa prevalecesse. Mas evitou mencionar-lhe o nome.
"A Argentina é o maior parceiro comercial na América do Sul. Ou seja, nós precisamos um do outro, sem divergência", declarou Lula. "Eu não posso falar de eleição na Argentina, porque a decisão de vocês é soberana, mas queria pedir que vocês lembrem que o Brasil precisa da Argentina e a Argentina precisa do Brasil. Para isso, é preciso um presidente que goste de democracia, que goste da América do Sul, que respeite instituições, que goste do Mercosul forte".
Ao anotar na postagem deste domingo que está "à disposição para trabalhar junto" com o presidente eleito pelos argentinos, Lula como que passou a bola para Milei. Em privado, diz ter receio de não ser correspondido. Mas a cúpula do Itamaraty avalia que surgirá nos próximos dias um Milei mais realista do que o personagem histriônico da campanha eleitoral.
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