O PSDB morreu e ainda não sabe
A morte de um partido político é todo um lento, suave, pachorrento processo. Começa antes, muito antes. No caso do PSDB, a morte é anterior a si mesma. A legenda começou a fenecer há coisa de duas décadas, quando renegou FHC. Tentou retirá-lo do armário um par de vezes. Mas era tarde.
Em franco processo de decomposição, o tucanato tem dificuldades para recrutar candidatos a prefeito. Em São Paulo, uma revoada de vereadores dá à sangria do ninho uma aparência de hemorragia. O partido pode ficar sem nenhum representante na Câmara municipal.
Na Câmara federal, restam ao PSDB 12 cadeiras. No Senado, o senador Plínio Valério, em voo solo, rala para manter a unidade da bancada durante as votações. Tem dificuldades para convencer a si mesmo na hora da orientação de voto.
Ninguém diz em voz alta, talvez por pena. Mas o PSDB já morreu e não sabe. Ao implodir a centro-direita em 2018, Bolsonaro tomou o lugar que o PSDB ocupava há um quarto de século na polarização com o PT. O capitão empurrou o tucanato para a cova.
No buraco, o PSDB chegou a 2022 sem candidato ao Planalto. João Doria desistiu. Eduardo Leite não resistiu. Houve mais e pior: o PSDB perdeu a disputa pelo governo de São Paulo, interrompendo uma hegemonia de 28 anos.
Egresso do DEM, o tucano postiço Rodrigo Garcia foi gongado pelo eleitor já no primeiro turno. O bolsonarista Tarcísio de Freitas jogou terra em cima do ninho.
Ironicamente, Geraldo Alckmin tornou-se o símbolo da decomposição do PSDB. Governou São Paulo em nome do partido por quatro mandatos. Pretendia concorrer novamente. Mas foi escanteado por Doria, um afilhado político que preferiu o fiasco Garcia ao ex-padrinho.
Doria voltou para suas empresas. Garcia desceu ao ostracismo. Alckmin aninhou-se no PSB e na campanha presidencial de Lula. Eleito vice-presidente da República na chapa do antigo arquirrival, Alckmin acomodou uma lápide sobre o tucanato.
Se a demora do PSDB em se dar conta da própria morte serve para alguma coisa é para demonstrar que o partido, suprema desgraça, não foi para o céu. O atestado de óbito do PSDB já foi expedido. Preencheu o formulário uma legista insuspeita. Chama-se Evidência. No espaço reservado à causa mortis, ela escreveu: "Suicídio".
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