Bolsonaro encontrou em Marçal um ego bem maior do que o seu
Bolsonaro espantou-se com o comportamento de Pablo Marçal no 7 de Setembro. Assombração sabe para quem aparece. Um cabo eleitoral que fecha acordo com um candidato, mas balança diante do repique da popularidade de outro mais histriônico, não poderia esperar outra coisa. Marçal deu ao ato bolsonarista uma aparência crepuscular. Vítima de si mesmo, Bolsonaro reagiu com a agressividade de quem encontrou um ego maior do que o seu.
O egocentrismo chegou antes de Marçal, estampado numa numa gigantesca bandeira do Brasil que forrava um pedaço da Avenida Paulista. Nela, em vez de "ordem e progresso", lia-se o seguinte: "Bolsonaro parou. Marçal começou. Pablo Marçal presidente do Brasil".
Marçal ajustou o cronômetro às conveniências de quem morre de medo de ter a candidatura a prefeito de São Paulo barrada pelo Judiciário. Chegou atrasado o bastante para não ter que testemunhar os ataques de Bolsonaro contra Xandão. Impedido de subir no caminhão de som, escalou a grade de proteção. Fez pose para suas redes. Estava interessado nos recortes, não nos discursos.
Acusado por Bolsonaro de "fazer palanque às custas do trabalho e risco dos outros", Marçal deu de ombros. "Não tive fala nenhuma", declarou. "Fui o único que foi para os braços do povo". Abespinhado, Bolsonaro ecoou no WhatsApp vídeo providenciado pelo pastor Silas Malafaia. Na peça, Marçal é torpedeando com três adjetivos tóxicos: "arregão", "aproveitador" e "traidor".
Ocupado em brigar com sua própria imagem refletida no espelho, Bolsonaro demora a enxergar a movimentação ao redor. Tarcísio de Freitas faz o seu jogo. Agarrado ao prestígio do governador paulista, Ricardo Nunes faz as contas para chegar ao segundo turno. Metade do eleitorado bolsonarista faz o "M" para o Datafolha. E Bolsonaro faz cara feia.
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