Josias de Souza

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Reportagem

Ministro do STF sobre socorro de Trump a Bolsonaro: 'Piada'

A pretensão de Bolsonaro de obter socorro de Donald Trump para reverter sua inelegibilidade e retirá-lo da rota de uma condenação criminal inspirou comentário ácido de um ministro do Supremo Tribunal Federal. "A hipótese de interferência do presidente dos Estados Unidos em decisões de Cortes superiores do Brasil não pode ser vista senão como uma piada", disse o magistrado à coluna. "No momento, o ex-presidente Bolsonaro precisa de uma boa defesa técnica. Isso não é algo que ele possa obter na Casa Branca."

Impedido por Alexandre de Moraes de comparecer à posse de Trump, nesta segunda-feira, Bolsonaro será representado por Michelle Bolsonaro. No sábado, acompanhou o embarque de sua mulher para Washington. Falou aos repórteres no aeroporto de Brasília. Em timbre lacrimoso, lamentou o veto à liberação do seu passaporte. Declarou que, se Trump o convidou, é porque "ele tem a certeza que pode colaborar com a democracia do Brasil, afastando inelegibilidades políticas, como essas duas minhas que eu tive" no TSE.

Bolsonaro absteve-se de esclarecer como Trump poderia ajudá-lo. Soou como se acreditasse que a reversão do seu drama é uma das prioridades de Trump. Fez pose de perseguido. Sem citar Moraes ou o STF, afirmou que seu aliado norte-americano "não vai admitir certas pessoas pelo mundo perseguindo opositores, o que chama de lawfare [uso das leis para fins de perseguição política], que ele sofreu lá. Grande semelhança entre ele e eu. [...] Não vou dar palpite nem sugestão, ele sabe o que está acontecendo".

Ao comentar a manifestação de Bolsonaro, o ministro do Supremo evitou fazer prognósticos sobre a revisão das decisões do Tribunal Superior Eleitoral que resultaram no seu banimento das urnas até 2030. Limitou-se a dizer que "eventual reversão seria submetida a um veredicto final da Suprema Corte." Esquivou-se também de prever o futuro criminal do capitão. "O doutor Paulo Gonet, procurador-geral da República, ainda nem decidiu se irá ou não oferecer denúncia no caso da tentativa de golpe de Estado", disse.

Irônico, o magistrado declarou que "o apelo à suposta influência de Donald Trump não combina com o propalado patriotismo do indiciado, pois supõe que o Brasil seria uma República capenga, cujo Judiciário estaria sujeito a interferências imperiais do presidente de uma nação estrangeira". De resto, disse o ministro, "a manifestação de Jair Bolsonaro desrespeita a competente equipe de advogados que o assessora. É nos seus defensores que o investigado precisaria confiar, não em Trump."

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