Josias de Souza

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Opinião

Bolsonaro admite a própria pequenez ao falar de prisão

Bolsonaro vive a síndrome do que está por vir. Em em entrevista à rádio Auriverde Brasil, perguntou: "Como é que você acha que eu acordo todo dia?" Ele mesmo respondeu: "Com a sensação da PF na porta! Qual a acusação? Não interessa!". Acontece com Bolsonaro um fenômeno muito comum na política: o sujeito acha que é uma coisa. Mas a sua reputação indica que ele já virou outra coisa.

São três os indiciamentos da Polícia Federal que submetem Bolsonaro ao risco da tranca. Enrolou-se no caso das joias sauditas, da falsificação dos cartões de vacina e, sobretudo, no inquérito sobre a tentativa de golpe de Estado. Os achados da PF encontram-se sobre a mesa do Procurador-Geral da República. A denúncia ao Supremo Tribunal Federal é uma questão de tempo.

A realidade que leva Bolsonaro a temer a prisão é muito parecida com a de uma mulher fictícia criada por um escritor chamado Josué Guimarães. Essa mulher da ficção sofria de uma doença que a fazia diminuir diariamente de tamanho. E seus parentes serravam os pés das mesas e das cadeiras, rebaixando os móveis, para que ela não percebesse o que lhe acontecia. No caso do capitão, a própria defesa se esforça para disfarçar o encolhimento do "mito", reduzindo o seu drama jurídico a uma hipotética conspiração.

Juridicamente, Bolsonaro foi, por assim dizer, jurado de morte pelas circunstâncias que ele próprio criou. Politicamente, o personagem percorre a conjuntura como se estivesse cheio de vida. Sobre a próxima sucessão, ele diz: "Quem vai ser o cara da direita? Tem que ser Jair Bolsonaro. Não será democrática a eleição de 2026 sem a minha presença. Quem você vai apoiar? Só falo algo parecido aos 48 do segundo tempo, quando eu realmente não tiver mais chance."

A direita bolsonarista derrete junto com Bolsonaro. Banido das urnas pelo TSE até 2030, ele prolonga a ficção de representar em 2026 a direita que tirou do armário em 2018 e avacalhou na Presidência encerrada em 2022. Paradoxalmente, admite a própria pequenez ao falar sobre a inevitabilidade de sua prisão.

Hoje, o futuro eleitoral de Bolsonaro cabe numa caixa de fósforos. Ao travar o debate sobre o pós-bolsonarismo, com a construção de candidaturas alternativas, o capitão afunda o movimento político que fundou. Em contrapartida, estimula a articulação de um projeto conservador livre do coquetel programático que inclui moralismo bisonho, idolatria à ditadura militar, ódio à diversidade e um inoxidável desapreço à liturgia democrática.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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