Lula trava com varejistas diálogo do tipo 'me engana que eu gosto'

O alarme da impopularidade continua soando no Planalto. Nesta sexta-feira, a Casa Civil e outros três ministérios -Fazenda, Agricultura e Reforma Agrária— levarão a Lula um lote de propostas para tentar reduzir o preço dos alimentos no país. O governo se deu conta de que um descuido com o Pix aleija. Mas a inflação pode matar o plano político para 2026. Um ano que, segundo Lula, "já começou".
A largada foi atabalhoada. Na quarta-feira, o chefe da Casa Civil Rui Costa declarou que o governo faria "intervenções" para baratear os preços. No Brasil, "intervenção" é um eufemismo para ortodoxias como congelamentos e confisco de bois no pasto. O ministro foi compelido a ajustar a prosa. Horas depois, disse que o governo estuda "medidas", não "intervenções". Foi um "equívoco de comunicação", ecoou nesta quinta-feira Paulo Teixeira, chefe da pasta da Reforma Agrária.
Por enquanto, estão sobre a mesa ideias expostas a Lula por varejistas há dois meses. Aproveitando-se das circunstâncias, os supermercados reempacotaram antigas reivindicações. Coisas como um salvo-conduto para esticar a data de validade de produtos numa xepa consentida —ideia já descartada pelo governo—, redução das taxas cobradas no cartão do vale-alimentação, autorização para vender medicamentos e um refresco tributário para quem doar alimentos.
Alega-se que haveria uma redução nos custos. E a diferença seria repassada à clientela. Esse mesmo lero-lero entra e sai da pauta há pelo menos uma década. A diferença é que, agora, em vez de admitir que buscam um aumento dos seus lucros, os gigantes do varejo sustentam que baratearão os preços, ajudando a anestesiar a inflação dos alimentos.
Esse jogo é conhecido. Lula trava com varejistas diálogo do tipo 'me engana que eu gosto'. Os empresários sabem que é conversa mole, Lula sabe que tem tudo para não funcionar e seus interlocutores sabem que ele sabe. O risco que o governo corre é o de criar expectativas que não se materializarão nos códigos de barra expostos nas gôndolas. A oposição esfrega as mãos.
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