Josias de Souza

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Opinião

Supersalário estimula juiz novo a levar burro à sombra na largada

Ao discursar na solenidade que marcou a volta do Judiciário das férias, Luís Roberto Barroso considerou exageradas as reclamações sobre os supersalários de juízes. Disse que "é preciso não supervalorizar críticas que muitas vezes são injustas ou frutos da incompreensão do trabalho dos juízes". Ou o presidente do Supremo Tribunal Federal define incompreensão ou será difícil compreender a sua leniência com a corporação.

Na série de reportagens sobre o Brasil dos privilégios, o UOL informa que, em 2023, 99 magistrados estrearam na folha do Tribunal de Justiça de São Paulo. No ano seguinte, pelo menos 93 —ou 94% do total— já recebiam salários maiores do que os de ministros da Suprema Corte. Há estreante beliscando contracheque de R$ 75 mil por mês.

Num mundo justo e compreensível, um juiz que ingressa na carreira deveria receber salário compatível com a sua inexperiência. Conforme o interesse e o desempenho, tomaria o elevador da meritocracia. Subiria andar por andar. Aperfeiçoando sua formação, poderia ascender mais rápido. Com sorte, alcançaria o Éden da suprema remuneração.

No universo incompreensível do Judiciário brasileiro, a ascensão meteórica de juízes recém-nomeados é um prêmio à preguiça. Sabendo que a Constituição lhe assegura a vitaliciedade, a inamovibilidade e a irredutibilidade do salário, o sujeito condena-se à acomodação perpétua. É estimulado pelos penduricalhos a colocar o burro na sombra antes de qualquer esforço, já na largada.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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