Com impopularidade a pino, Lula faz aceno tributário para classe C
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Ao tomar posse pela terceira vez, Lula recriou e revigorou antigos programas sociais. Fez de tudo para cultivar o apreço do seu eleitorado mais fiel. Mas as pesquisas mostram que tudo não quis nada ele. Mal avaliado até por brasileiros pobres, Lula faz com dois anos de atraso seu aceno mais vistoso para os andares médios da pirâmide social, onde mora a classe C.
Lula retira do Imposto de Renda cerca de 10 milhões de brasileiros ao elevar a faixa de isenção para quem ganha até R$ 5.000. A promessa de campanha tem um custo. Coisa de R$ 27 bilhões, segundo Fernando Haddad. Para tapar o buraco da renúncia fiscal, o Planalto sugere taxar em até 10% os brasileiros que ganham mais de R$ 50 mil por mês.
A mordida alcança o bolso de 0,1% da população economicamente ativa. Mas esse nicho tem mais voz no Congresso do que os outros 99,9%. Antes de deixar o trono, o ex-imperador da Câmara Arthur Lira ergueu barricadas. "É justo que se taxe 0,1 % da população brasileira?", questionou Lira, em entrevista ao Valor. Insinuou que o dinheiro dos ricos pode fugir para o exterior. "Alguns países já tentaram fazer, e perderam o dinheiro", disse.
O risco que Lula corre é o Congresso aprovar a isenção e dar de ombros para a compensação. Davi Alcolumbre e Hugo Motta, presidentes do Senado e da Câmara, adornarão com suas presenças o salão do Planalto apelidado de Cabo Canaveral —uma alusão à base de lançamento de foguetes dos Estados Unidos. Se a dupla adotar a linha de Arthur Lira, o foguete da isenção à classe média pode explodir no dólar, nos juros futuros e na taxa de risco.