Votação do Orçamento envolveu sequestro e ajuste de resgate
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Com mais de três meses de atraso, o Congresso aprovou, finalmente, o Orçamento federal de 2025. O governo brasileiro chegou ao final do primeiro trimestre do ano como uma superestrutura pendurada no ar porque o orçamento havia sido sequestrado. Deputados e senadores só liberaram a votação depois de ajustar com o Executivo o compromisso de pagamento do resgate. Veio na forma da liberação de emendas bilionárias.
Ladrilhando com verbas federais o caminho que leva às suas reeleições, os congressistas se autoconcederam R$ 50,4 bilhões. Desse total, R$ 11,5 bilhões transitarão pelas comissões temáticas da Câmara e do Senado como emendas secretas. O centrão e a oposição controlarão as chaves dos maiores cofres.
O arranjo foi sacramentado dois dias depois de o ministro do Supremo Tribunal Federal Flávio Dino ter requisitado ao Legislativo e ao Executivo esclarecimentos sobre reincidência na falta de transparência. A reiteração do fenômeno transforma emenda num outro nome para roubalheira. Há oito dezenas de inquéritos nos armários da Suprema Corte.
Afora as emendas de 2025, o Planalto incluiu no resgate que levou ao fim do sequestro do Orçamento pendências do ano passado. Coisa de R$ 3,8 bilhões em emendas secretas de comissões e mais R$ 3 bilhões em emendas extraordinárias negociadas num toma-lá-dá-cá que antecedeu a votação de um pacote fiscal do governo em dezembro.
Emendas são uma prerrogativa dos parlamentares. A liberação é atribuição do Executivo. Mas quando os padrinhos das verbas relutam em levar a cara à vitrine, é sinal de que o dinheiro continuará escoando pelo ladrão, pois os ladrões continuarão invadindo o Orçamento.
A Polícia Federal costuma chegar aos desvios —quando chega— com mais de dois anos de atraso. Quer dizer: a roubalheira inserida no Orçamento de 2025 só vai virar escândalo —se virar— em 2027, quando os sudpeitos já estiverem reeleitos.