Josias de Souza

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Opinião

Bolsonaro vai ao banco dos réus algemado à fabulação do complô

Em poucos dias, a excursão de Bolsonaro pelos nove círculos do inferno fará escala numa ação penal. Desde o início da semana, advogados do capitão e dos seus cúmplices visitam ministros da Primeira Turma do Supremo para entregar memoriais com resumos das teses da defesa. Os textos embaralham questões processuais sem distribuir cartas sobre o mérito.

Em julgamento que começa na terça-feira, Bolsonaro chegará ao banco dos réus ainda algemado à tese da perseguição —uma fabulação que reduz tudo a um complô do sistema e da imprensa sensacionalista. A versão do complô é sedutora.

Seria melhor ficar com a maledicência, com a perfídia humana do que ter que constatar que tudo o que está na cara —os indícios, os documentos, as mensagens, os áudios, os vídeos— não pode ser um conjunto de anomalias da lei das probabilidades conspirando contra um mito inocente e seus seguidores ingênuos.

Seria ótimo dispor de interpretações que levassem a conclusões alternativas. Poder-se-ia especular sobre uma trama do sistema apodrecido com jornalistas de esquerda para faturar com a honra alheia. Ou sobre um mal-entendido sem precedentes, uma sequência impressionante de coincidências maliciosamente interpretadas que faz um democrata de mostruário parecer um golpista chinfrim.

Bolsonaro e os membros do alto-comando da trama golpista não são os primeiros suspeitos a desprezar a realidade. Tampouco serão os últimos a descobrir que a realidade também não leva em conta os encrencados que a ignoram na hora de exercer o sacrossanto direito de defesa.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.