Josias de Souza

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Opinião

Pior tipo de solidão é companhia dos cúmplices, nota Bolsonaro

No golpe bem-sucedido, a unanimidade é a opinião do chefe da organização criminosa. No golpe falhado, a unanimidade converte-se em solidão no patíbulo. Fugindo da corda, os cúmplices encostaram Bolsonaro na forca.

Na sessão inaugural de julgamento da denúncia contra os oito membros do "grupo crucial" da trama golpista, além do aperto do nó no pescoço do capitão, sobrou corda para o enforcamento do general Braga Netto na Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal.

Além de esgrimir questões processuais para desqualificar a denúncia do procurador-geral Paulo Gonet, os defensores de Bolsonaro e Braga Netto torpedearam a colaboração premiada de Mauro Cid.

O delator foi ajustando os depoimentos às conveniências dos investigadores, disse um dos advogados, apontando "uma inversão": Foi o delator que corroborou a Polícia Federal e não o contrário. Ele foi coagido, sustentou o outro doutor. É mentiroso, acusou.

Os representantes da maioria dos denunciados abstiveram-se de negar a existência de um complô para impedir a posse de Lula. Preocuparam-se em afastar os seus clientes da trama. Em vez de dinamitar, usaram a delação.

O advogado do general Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa, disse que Cid afirmou que seu cliente queria impedir que Bolsonaro assinasse "uma doideira". O do ex-ministro da Justiça exultou: "Mauro Cid não implica Anderson Torres". Cid não deu qualquer relevo à atuação de Alexandre Ramagem, sustentou o advogado do ex-chefe da Abin.

O doutor contratado pelo general Augusto Heleno, ex-chefe do GSI, realçou que o delator não declarou senão que seu cliente, pela idade, falava um monte de coisa sem consequência. Noutro ponto, a defesa sustentou que Heleno, numa live comprometedora de Bolsonaro, ficou calado. Esqueceu de lembrar —ou lembrou de esquecer— a célebre frase do general filmada em reunião ministerial: "Se tiver que dar soco na mesa, é antes das eleições. Se tiver que virar a mesa, é antes das eleições", inflamou-se.

A defesa do almirante Almir Garnier, ex-comandante da Marinha acusado de aderir ao golpe, não negou que Bolsonaro exibiu aos chefes militares uma minuta golpista. Alegou apenas que seu cliente não colocou a força naval à disposição da insurreição. Equiparou-se aos ex-chefes do Exército, general Freire Gomes; e da Aeronáutica, brigadeiro Baptista Júnior, retratados na denúncia como os legalistas que frearam a o golpe.

A análise do primeiro núcleo da denúncia deve ser concluída nesta quarta-feira. O excesso de provas prevalecerá sobre a desfaçatez. A peça da Procuradoria será convertida em ação penal. Pelo cheiro de queimado, Bolsonaro já notou que, no banco dos réus, o pior tipo de solidão é a companhia dos cúmplices.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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