Reencenação do cercadinho traz confissão de culpa de Bolsonaro
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Alguma coisa subiu à cabeça de Bolsonaro. Não é nada que se pareça com bom senso. Empurrado para o banco dos réus, convocou os repórteres. Transformou entrevista em monólogo. Voz alteada, confirmou a certa altura ter presidido uma reunião com os comandantes militares para discutir a minuta do golpe. Demora a perceber que suas palavras ganharam a inusitada conotação de uma confissão de culpa.
Bolsonaro assegura que não teve senão o objetivo de "discutir hipóteses de dispositivos constitucionais". Coisas como a decretação do estado de sítio. Algo que, na sua versão, "não é crime". Não é a primeira vez que trata do tema. O problema é que o voto proferido por Alexandre de Moraes horas antes, na Primeira Turma do Supremo, deu à manifestação uma importância capital. Disse Moraes: "Não é normal que o presidente que acabou de perder uma eleição se reúna com o comandante do Exército, o comandante da Marinha e ministro da Defesa para tratar de uma minuta de golpe".
Na prática, Bolsonaro avalizou os depoimentos do general Freire Gomes e do brigadeiro Baptista Júnior, os ex-comandantes do Exército e da Aeronáutica. Ambos disseram em depoimentos à Polícia Federal ter resistido à pressão para que aderissem ao golpe de Bolsonaro. Segundo a denúncia da Procuradoria-Geral da República, o golpe ficou na tentativa porque faltou tropa. Apenas o almirante Almir Garnier, então chefe da Marinha, aderiu.
O monólogo de Bolsonaro foi uma reedição dos piores momentos do cercadinho e das lives do Alvorada. Ressuscitou até o fantasma das urnas fraudadas, a defesa do voto impresso e o lero-lero segundo o qual a Justiça Eleitoral é vermelha: "O TSE influenciou, jogou pesado contra mim, e a favor do Lula", disse. A língua de Bolsonaro continua sendo a mesma metralhadora de sempre. A diferença é que agora ela atira nos pés de um réu.
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