Josias de Souza

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Opinião

STF asfixia golpistas enquanto devolve corruptos ao Paraíso

Se Deus tivesse que aparecer para um corrupto graúdo, Ele não se atreveria a surgir de outra forma que não fosse um recurso com tramitação na Segunda Turma do Supremo. Conhecida como Jardim do Éden dos malfeitores, o colegiado dedica-se a anular provas e restaurar biografias apodrecidas. Em contraste, a Primeira Turma do tribunal consolida-se como Câmara de Gás dos encrencados na tentativa de golpe que desaguou no 8 de janeiro.

Na quarta-feira, a Primeira Turma colocou Bolsonaro e seus cúmplices mais graúdos no rumo da cadeia. Decorridas 48 horas, a Segunda Turma iniciou nesta sexta o julgamento de recurso da Procuradoria contra decisão de Dias Toffoli que anulou todos os atos que levaram à condenação, em 2016, de Antonio Palocci, um corrupto confesso. Toffoli reafirmou nesta sexta a decisão anterior. Os outros quatro magistrados do Éden têm uma semana para votar, em plenário virtual.

As transgressões de Sergio Moro, que ganhou do Supremo o selo de juiz suspeito, não apagam a ladroagem da era petista. Coisa confessada, comprovada e registrada em balanço da Petrobras. A despeito disso, Palocci obteve de Toffoli o mesmo tratamento dado a Marcelo Odebrecht, que também teve os processos anulados. Antes, Toffoli anulara todas as provas contra a antiga Odebrecht. Considerou-as "imprestáveis".

Entre as provas consideradas inaproveitáveis está uma mensagem na qual Toffoli é chamado por Marcelo Odebrecht de "amigo do amigo do meu pai". Num mundo convencional, o ministro teria se afastado do caso. Mas Toffoli animou-se a suspender multa de R$ 10,3 bilhões que a empreiteira havia concordado em pagar. Suspendeu também R$ 8,5 bilhões de multas aplicadas contra a J&F num caso que nada tinha a ver com a Lava Jato. Os valores foram recalculados para baixo. O fato de a mulher de Toffoli ter advogado para a J&F numa querela empresarial não constrangeu o ministro.

Se a decisão de Toffoli for mantida, como parece provável, o contraste será instantâneo. Ao asfixiar os golpistas, a Primeira Turma acerta no olho da mosca. Não se deve transigir com ameaças à democracia. Ao semear fichas sujas no Paraíso, a Segunda Turma atira contra a hipotética supremacia do Supremo. Oferece material para que o bolsonarismo carregue o seu "mito" num andor, como um messias de pau oco e auréola de perseguido.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.