Josias de Souza

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Opinião

Sob Galípolo, BC pode ajeitar um negócio que deveria ser evitado

O primeiro grande desafio de um presidente de Banco Central é distinguir a diferença sutil do significado das expressões "preciso fazer algo" e "algo precisa ser feito". Quem tropeça na semântica arrisca-se a chegar tarde no lance. Submetido a um negócio nebuloso —a compra do Banco Master pelo BRB, o banco estadual de Brasília—, Gabriel Galípolo descobre da pior maneira que as circunstâncias o intimam a fazer algo que deixou de ser feito pelo antecessor Roberto Campos Neto.

Galípolo recebe nesta terça-feira o controlador do Master, Daniel Vorcaro. Na véspera, conversou separadamente com os presidentes do Banco de Brasília, Paulo Henrique Costa, e do BTG, André Esteves, que oferecera R$ 1 pelo Master. O BRB aceitou pagar R$ 2 bilhões pela parte boa do banco, mantendo na presidência do conselho Vorcaro, o responsável pela fatia micada. Xerife do sistema financeiro, o BC tenta encontrar lógica dentro da ausência de nexo.

A mercadoria mais valiosa de um banco é a confiança. É esse ativo que leva multidões a guardarem seu dinheiro num mesmo lugar. Um lugar no qual as pessoas depositam tanta fé que não cogitam correr em procissão para sacar suas economias ao mesmo tempo. Ao captar bilhões oferecendo no mercado CDBs a taxas de 140% do CDI, o Master tornou-se um convite ao risco. Ao encostar seu negócio em precatórios e empresas de recuperação duvidosa, virou um flerte com o desastre.

Num banco privado, os negócios começam a terminar na mesa do controlador. Nos bancos estaduais —ou distritais—, o início do fim é a audiência com o governador. Ibaneis Rocha, o peemedebista que governa Brasília, demora a se pronunciar. Empresário de estimação do centrão, Daniel Vorcaro desfruta do apreço de cardeais do grupo que manda e, sobretudo, desmanda no Congresso.

Servindo-se da consultoria do ex-ministro petista Guido Mantega, Vorcaro cavou audiência com Lula. Só os três sabem o que conversaram. A caixa registradora que permitiu ao pequeno BRB comprar um banco maior é impulsionada por um capital de giro federal. Brasília recebe anualmente da União R$ 25 bilhões do Fundo Constitucional do Distrito Federal. Nesse contexto, o risco que o Banco Central corre é o de ajeitar um negócio que, por temerário, deveria ser evitado.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.