Josias de Souza

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Opinião

Segurança de toga é coisa séria, mas a FAB não é casa da sogra

A revelação de que jatos da FAB transportam togas supremas em segredo potencializa a percepção de que não há privilégio mais delicioso do que gastar o dinheiro dos outros. Alega-se que as aeronaves foram franqueadas aos ministros do Supremo Tribunal Federal para garantir-lhes a integridade física. Não há vestígio de justificativa plausível para a falta de transparência.

No serviço público, regalias temporárias tornam-se prerrogativas institucionais. Institucionalizados, os privilégios viram religião. Questionar uma vantagem é como confrontar um dogma. Segurança de ministro do Supremo é coisa seria. Mas a Força Aérea Brasileira não é casa da sogra. Voar nas asas do erário sem transparência é um estímulo à torrefação de verbas públicas em proveito particular.

Antes, apenas o presidente do tribunal estava no rol de autoridades com licença para requisitar um jato. Desde 2023, os 11 ministros passaram a dispor do privilégio de usar a FAB como táxi aéreo. Nas planilhas públicas, a ordem para retirar o avião do hangar é atribuída ao Ministério da Defesa. Os nomes dos passageiros permanecem em segredo, escondidos atrás de uma norma do TCU.

Embora não faça nexo, admita-se que o sigilo fosse necessário antes do embarque. Depois do pouso, o segredo não serve senão para livrar do constrangimento quem não tolera a luz do Sol e evitar o controle social dos gastos públicos. Em nenhuma das hipóteses a penumbra combina com a supremacia presumida do Supremo.

O golpismo está preso ou a caminho da cadeia. Bolsonaro é pressionado pelo centrão a abrir caminho para um Plano B que não confunda conservadorismo com arcaísmo. A anistia tornou-se uma causa minoritária nas ruas. Em algum momento os ministros do Supremo, cercados de guarda-costas, terão que voltar a frequentar saguão de aeroporto.

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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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