Vírus da politização da Justiça ronda processos do 8 de janeiro

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O julgamento dos encrencados no 8 de janeiro envolve mais do que meras decisões judiciais. É algo simbólico. Está em jogo o apreço do país pela sua democracia. O debate sobre anistia, deflagrado no Congresso antes do trânsito de todas as ações penais, inocula no devido processo legal o vírus da politização da Justiça. Os bastidores de Brasília passaram a emanar um incômodo cheiro de acordo.
Bolsonaro simula compaixão pelo que chama de "pobres coitados". Lorota. Não está preocupado com a cabeleireira do batom, mas com seu próprio pescoço. A facção bolsonarista da Câmara diz ter obtido as 257 assinaturas necessárias à conversão do projeto de anistia numa emergência legislativa. Hugo Motta, o presidente da Casa, não é obrigado a levar o projeto ao plenário. Mas cresce a pressão sobre ele.
Motta articula com Lula e ministros do Supremo uma saída que reduza as penas das sardinhas da tentativa de golpe sem beneficiar os tubarões. O Planalto piscou. Coordenadora política de Lula, a ministra Gleisi Hoffmann disse que talvez seja necessário discutir no Congresso a redução da pena de "algumas pessoas do 8 de janeiro". Nada a ver com Bolsonaro e seus generais, disse ela. A eventual revisão do tamanho dos castigos teria que trazer a chancela do Supremo.
A exemplo do que ocorreu com a turma da corrupção, o bloco do golpe joga com o tempo. O Datafolha informa que 56% dos brasileiros são contra a anistia para os envolvidos no quebra-quebra. Há um ano eram 63%. O recorte da pesquisa sobre o tamanho das penas mostra a encrenca em que os castigos draconianos meteram o Supremo. Para 36%, as penas deveriam ser menores. Para 34%, são adequadas. Outros 25%, acham que deveriam ser maiores.
Os dados expõem uma nação dividida. Seja qual for o desfecho de um eventual acordo entre os poderes, um pedaço da sociedade torcerá o nariz. Pelo menos um terço dos brasileiros concluirá que o Brasil corre o risco de deixar de ser o país do jeito para tudo para virar um país que não tem jeito. Nele, decisões judiciais envelhecem antes da conclusão do parto.
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