Josias de Souza

Josias de Souza

Siga nas redes
Só para assinantesAssine UOL
Opinião

Machismo de Lula é indisfarçável

Quando parece que tudo está normalizado —o Juscelino substituído no ministério por outro chapa do Alcolumbre, o Hugo Motta refugiado da anistia no exterior, nenhuma nova tarifa do Trump na última meia hora—, surge no noticiário, do nada, a penúltima declaração machista do Lula. Ele chamou de "mulherzinha" a diretora-geral do FMI, Kristalina Georgieva.

Não foi a primeira vez que Lula falou sobre o encontro que teve com Georgieva, em janeiro de 2023, na cidade japonesa de Hiroshima, durante reunião G7. O relato dessa conversa tornou-se uma ideia fixa.

Lula adora repetir que ouviu da chefe do FMI que "a coisa estava difícil para o Brasil" e que o país só cresceria 0,8% no primeiro ano do seu terceiro mandato. Tudo para chegar a um arremate autocongratulatório: "A resposta veio no final do ano. O Brasil cresceu 3,2% em 2023."

Dessa vez, discursando para empresários da construção, Lula adicionou uma dose de misoginia à desconstrução da búlgara Georgieva. "Lá [em Hiroshima] eu encontro com uma mulherzinha..." Blá, blá, blá... A "mulherzinha" é doutora em Economia, mestre em Economia Política e Sociologia. Foi diretoria-geral do Banco Mundial antes de chegar ao FMI.

Já virou rotina. Quando Lula fala de improviso, as mulheres são acometidas da síndrome do que está por vir. Já disse que nomeou Gleisi Hoffmann para a coordenação política do Planalto por ser "mulher bonita". Declarou que os homens "são mais apaixonados pelas amantes do que pelas mulheres". Sustentou que a violência contra mulher cresce depois dos jogos de futebol, "mas se o cara é corintiano tudo bem". Ensinou que mulher precisa de salário "para comprar batom e calcinha."

Em certa ocasião, Lula chegou mesmo a encostar sua retórica no "imbrochável" de Bolsonaro. Alardeou que tem um "tesão de 20 anos" de idade. Invocou o depoimento de uma feminista insuspeita: "Quem achar que o Lulinha está cansado, pergunte para a Janja. Ela é testemunha ocular."

Sempre que deprecia as mulheres, Lula é tratado como um personagem da carochinha. Embora exiba focinho de lobo, orelhas de lobo e dentes de lobo, aliados, devotos e sabujos juram que não passa de uma inocente vovozinha disfarçada.

Convém encarar a realidade. Lula tornou-se um machista indisfarçável. Com a consciência de gênero estacionada na década de 1950 do século passado, não consegue acompanhar a evolução da mulher.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.