Custou caro a Lula culpar quem compra comida cara por carestia
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A palavra é um empreendimento meio a meio. Pertence metade a quem pronuncia, metade a quem ouve e interpreta. Há dois meses, Lula culpou quem compra comida cara pela carestia. A mais recente pesquisa do Datafolha indica que o comentário custou caro.
Para 83% dos brasileiros Lula tem alguma responsabilidade pela inflação dos alimentos —54% acham que ele tem muita culpa, 29% avaliam que o presidente é um pouco culpado. A popularidade de Lula entrou no vermelho por muitas razões. A inflação dos alimentos consolida-se como uma das mais evidentes.
Além de contraproducente, o conselho de Lula —"Está caro, não compra"— revelou-se desnecessário. A pesquisa mostra que a carestia forçou 58% dos brasileiros a reduzirem a quantidade de alimentos que costuma comprar. O percentual foi maior entre os mais pobres: 67%.
No acumulado de 12 meses, a inflação foi de 5,48%. No mês passado, o tomate subiu 22,55%. O ovo ficou 13,13% mais caro. O café moído subiu 8,14%. Especialistas sustentam que os alimentos encareceram por causa da sazonalidade, da imprevisibilidade climática e do mercado internacional.
O diabo é que, num país presidencialista, as crises sempre ganham a cara do presidente. Lula costuma falar dez vezes antes de pensar. Deveria olhar com mais atenção para os Estados Unidos. Foi sobretudo por raiva da inflação —ou da memória inflacionária— que o eleitor americano puniu Biden nas pesquisas e Kamala Harris nas urnas. É por medo da inflação que o mesmo eleitor coloca a popularidade de Trump no vermelho antes dos 100 dias de governo.