Josias de Souza

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Opinião

Aiatolá Trump faz dos Estados Unidos uma espécie de sub-Irã

Convidada a participar da Brazil Conference, evento anual organizado por estudantes de Harvard e MIT, Erika Hilton se dispôs a exportar sua inteligência para os Estados Unidos por alguns dias. A deputada pediu um visto ao consulado americano em São Paulo. Descobriu que, para viajar, teria que pagar a mais hedionda das tarifas impostas por Trump: a tarifa do espírito. Coisa impagável.

O pedido de visto foi atendido. Mas o documento identifica a deputada transexual como pessoa do gênero masculino. Erika estrilou. A deputada Duda Salabert disse ter sido vítima da mesma transfobia. As representações diplomáticas dos Estados Unidos dão de ombros para as certidões de nascimento e os passaportes que atestam a condição feminina de Erika e Duda.

Procurada, a embaixada americana em Brasília alega que, por decisão do aiatolá laranja da Casa Branca, o antigo país da liberdade virou uma espécie de sub-Irã. Os Estados Unidos agora só reconhecem "dois sexos, masculino e feminino, considerados imutáveis desde o nascimento". Às favas com a decisão do Poder Judiciário brasileiro. O Supremo já reconheceu que pessoas como Erika e Duda têm o direito de construir a própria felicidade, alterando o prenome e a classificação de gênero perante o registro civil.

Erika diz que representará contra Trump na ONU. Reivindica a solidariedade da Comissão de Relações Exteriores da Câmara. Cobra do Itamaraty uma interpelação ao embaixador americano. Tudo dará em nada. A ONU é leão desdentado. A comissão da Câmara é bolsonarista. A diplomacia é muito macia. O mundo vive tempos sombrios. A Suprema Corte do Reino Unido acaba de decidir que, fora dos conceitos medievais de "mulher biológica" e "sexo biológico", nenhuma felicidade é permitida.

Na sua decisão mais efetiva, Erika Hilton optou por cancelar a viagem que faria aos Estados Unidos. O espírito é a parte imaterial do ser humano. Conceder a Trump a prerrogativa de tarifá-lo equivaleria a vender a alma.

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