Josias de Souza

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Opinião

Assalto a aposentados torna 1º de Maio de Lula dia melancólico

Recém-chegado dos funerais do papa Francisco, Lula deveria desperdiçar um naco de sua agenda com a leitura de uma célebre passagem do livro de Eclesiastes. Nela, aprende-se que há um tempo certo para cada propósito debaixo do céu. Tempo de espalhar pedras e tempo de ajuntá-las. Tempo de plantar e tempo de colher. Tempo disso, tempo daquilo... O assalto aos aposentados intima Lula a falar. Mas o presidente, alheio às necessidades do seu tempo, cala.

O silêncio torna o 1º de Maio uma data melancólica para Lula. Decidiu não participar das festividades das centrais sindicais. Depois do fiasco do ano passado, preferiu discursar protegido atrás da vitrine de uma rede nacional de rádio e TV. Num trecho do pronunciamento, Lula realçará a política de valorização do salário mínimo. A fala foi gravada na segunda-feira. Soará desconexa se não receber o adendo de uma declaração qualquer sobre os aposentados.

Em junho do ano passado, em entrevista ao UOL, Lula tomou as dores dos pensionistas do INSS ao refutar categoricamente a hipótese de dissociar a política de valorização do salário mínimo dos reajustes das aposentadorias. "Se eu acho que eu vou resolver o problema da economia brasileira apertando o mínimo do mínimo, eu estou desgraçado, eu não vou para o céu, eu ficaria no purgatório", disse. A tunga dos aposentados fez expirar o prazo de validade desse tipo de discurso.

No inquérito em que investiga o roubo potencial de R$ 16,3 bilhões contra 6 milhões de aposentados, a Polícia Federal informa que dirigentes do INSS afastados por ordem judicial receberam propinas de mais de R$ 17 milhões. Em troca permitiram que entidades sindicais entrassem na folha do instituto para assaltar aposentados. Num único lance, abriu-se uma porteira que permitiu à Contag morder 34 mil vítimas. A tunga atingiu mais de 60% dos aposentados humildes de cidades dos fundões do Maranhão, Piauí e Pernambuco.

O roubo atravessou a gestão Bolsonaro e se multiplicou sob Lula. Os achados da PF e da CGU caem sobre o Ministério da Previdência como uma lápide. Lula demora a perceber, mas o INSS desceu ao purgatório. E seu governo não foi para o céu. A temperatura no inferno tende a aumentar na proporção direta do tempo de permanência de Carlos Lupi na Esplanada. Há tempo de nomear e tempo de demitir. O ministro deveria chegar ao Dia do Trabalhador sem emprego.

Opinião

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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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