Para salvar réus, Câmara se mata

Ler resumo da notícia
Boa notícia, afinal. Ao recorrer contra a decisão do Supremo que derrubou 60% da blindagem criminal fornecida ao deputado Alexandre Ramagem, Hugo Motta não promoveu nenhuma elevação no IDC. O Índice de Desmoralização da Câmara continua nos mesmos 100%.
Por maioria de votos, a Câmara havia determinado a suspensão da ação penal contra Ramagem e toda a linhagem que lhe faz companhia no "núcleo crucial" da trama golpista. Por unanimidade, a Primeira Turma do Supremo retirou Bolsonaro e seus generais da jogada. E podou as ramas de Ramagem. De uma lista de cinco crimes, sustou apenas dois: deterioração e dano qualificado de patrimônio público.
No seu recurso, o jovem chefão da Câmara alega que, o Supremo viola "preceitos fundamentais da separação de Poderes" e da "imunidade parlamentar formal" ao manter no pescoço de Ramagem a corda dos crimes que vieram antes de sua diplomação como deputado: tentativa de golpe, abolição violenta da democracia e organização criminosa.
Como a imunidade parlamentar existe para proteger congressistas de perseguições políticas, aceitar a tese de que um deputado que tramou contra a democracia merece proteção conduz à desmoralização. Fica claro que, sob o exterior meio suspeito de quem endossa esse lero-lero, se esconde um culpado completo.
Numa inútil tentativa de deter o processo de autocombustão da Câmara, muitos evitam gritar incêndio dentro do teatro dos deputados. Mas o ensaio para aprovar no plenário a blindagem de outros encrencados torna inevitável gritar teatro dentro do incêndio. Trama-se agora o trancamento dos processos contra a condenada Carla Zambelli e o futuro réu Juscelino Filho.
Se a sensibilidade auditiva fosse transportada para o nariz, a plateia, ao ouvir o burburinho por trás da porta do gabinete de Hugo Motta na presidência da Câmara, sentiria um mau cheiro insuportável. É um odor típico dos processos de decomposição. Para salvar potenciais criminosos, a Câmara se mata.
Deixe seu comentário
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.