Josias de Souza

Josias de Souza

Siga nas redes
Só para assinantesAssine UOL
Opinião

Roubo contra aposentados é um empreendimento suprapartidário

O assalto contra os aposentados tornou-se tão disseminado que eliminou até o benefício da dúvida. Não se chega a um escândalo orçado em R$ 6,3 bilhões por acaso. O mais espantoso é que tudo transcorreu dentro das normas. Servidores desonestos colocaram entidades sindicais larápias dentro da folha do INSS porque enxergaram brechas nas regras. As frestas foram aprovadas no Congresso. O roubo tornou-se um empreendimento suprapartidário.

Dados recolhidos pela Folha nos arquivos do Congresso revelam que 31 congressistas de 11 partidos apresentaram emendas que ajudaram a afrouxar os controles. A esquerda, especialmente o PT, lidera o ranking. Mas há na lista parlamentares do centrão e do PL. Cavalgando três medidas provisórias editadas por Bolsonaro, tornaram os desvios permanentes.

Numa MP, de 2019, o prazo para entidades sindicais revalidarem os descontos, que seria anual, passou a ser a cada três anos. A primeira aferição ocorreria no final de 2021. Mas o Congresso injetou numa segunda MP de Bolsonaro emenda que prorrogou o cotejo para 2022. Meses antes, empurrou-se para dentro de outra MP de Bolsonaro emenda que simplesmente extinguiu a exigência de revalidação dos descontos.

Aprovadas na Câmara e no Senado e sancionadas sem vetos por Bolsonaro, as regras deixaram aposentados humildes à mercê das quadrilhas que morderam durante anos, em pequenas quantias mensais, pedaços dos seus minguados benefícios. Sob Lula, o assalto cresceu exponencialmente.

O avanço das investigações da Polícia Federal não atenua o prejuízo político do governo, que tenta retardar a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito no Congresso. A inevitabilidade de uma CPI é proporcional à quantidade de provas. Mas é preciso distinguir quem deseja investigar daqueles que querem abafar. Para alguns deputados e senadores, a CPI pode virar uma colônia de nudismo.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

Deixe seu comentário

O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.