Relacionamento entre Haddad e Galípolo trincou na crise do IOF

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Nos bastidores do governo, a crise produzida pelo vaivém na elevação das alíquotas do Imposto Sobre Operações Financeiras, o IOF, é tratada como uma "barbeiragem" de Fernando Haddad e sua equipe.
No Planalto, o recuo que evitou que a fumaça emanada do mercado evoluísse para um incêndio é parcialmente atribuído a um alerta transmitido a Lula pelo presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo.
A crise produziu uma trinca no relacionamento entre Haddad e Galípolo, que foi seu braço direito na pasta da Fazenda antes de ser transferido por Lula para o BC. O estranhamento entre os dois acentuou-se na noite de quinta-feira.
Galípolo irritou-se porque o secretário-executivo de Haddad, Dario Durigan, disse aos repórteres que ele havia sido consultado sobre as medidas. Ficou subentendido que o presidente do BC avalizara a derrapagem.
Haddad viu-se compelido a desmentir Durigam. Numa postagem feita na rede X às 20h20m de quinta-feira, o ministro anotou que "nenhuma" das providências foi "negociada com o BC."
Sobre as medidas fiscais anunciadas, esclareço que nenhuma delas foi negociada com o BC.
-- Fernando Haddad (@Haddad_Fernando) May 22, 2025
Nesta sexta-feira, Galípolo cuidou de tornar pública sua "antipatia" e "resistência" à utilização do IOF como ferramenta para atingir as metas fiscais que a equipe econômica se antoimpôs.
O chefe do BC participou por videoconferência de seminário promovido pela FGV, no Rio de Janeiro. A alturas tantas, foi instado a comentar o receio dos operadores do mercado de que a elevação do IOF sobre fundos de investimento no exterior seria um prenúncio de controle cambial.
O temor do mercado não fazia nexo, pois o Brasil registra um fluxo positivo de entrada de capitais. De resto, possui um nível confortável de reservas em dólar. Mas o receio levou ao recuo do governo.
Em sua resposta, Galípolo soou como se compreendesse que o objetivo do Ministério da Fazenda da era o aumento da arrecadação, não o controle do câmbio:
"Não está dentro do meu mandato a questão da alíquota do IOF, mas sempre foi minha posição quando disse que não gosto da proposta. Ficou bastante evidente que o objetivo [da proposta] era o objetivo fiscal, da meta de superávit", afirmou.
Mas Galípolo não deixou dúvidas quanto à sua avaliação de que o objetivo não justificava o risco: "Minha antipatia, resistência, de não gostar da ideia de você utilizar a alíquota de IOF como expediente para você tentar perseguir a meta fiscal, decorre justamente desse receio [do mercado]."
Sob refletores, Galípolo soou compreensivo ao falar sobre a complexidade da gestão fiscal: "Tenho visto meus amigos Simone Tebet e Fernando muito engajados em tentar produzir esse debate".
Longe dos holofotes, o ex-número 2 de Haddad empenhou-se em tomar distância da "barbeiragem" da Fazenda nas conversas que manteve com seus contatos no mercado financeiro. Fazenda e BC vivem uma fase glacial. A quebra do gelo exigirá muita conversa.
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