Josias de Souza

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Opinião

Lula sonha com 'normalidade política' que não existe mais

Em meio à beligerância que eletrifica as relações do governo com o Congresso, Lula fez uma tímida concessão à moderação nesta quarta-feira.

Em entrevista à TV Bahia, disse que vai conversar com os presidentes da Câmara e do Senado depois que retornar de viagem à Argentina e de participar da reunião de cúpula dos Brics, no Rio de Janeiro. "Vamos voltar à normalidade política nesse país", declarou.

A "normalidade" de que fala Lula é material indisponível no Congresso. Ao assumir o controle de R$ 50 bilhões do orçamento federal, deputados e senadores conquistaram a autossuficiência. Quem tem o dinheiro tem o poder.

No passado, quando a ditadura queria subjugar os congressistas, fechava o Congresso. Desde a redemocratização, o sistema sofisticou-se. O Legislativo ora se vendia ora se rendia. Na maioria das vezes, se rendia depois de se vender.

Até o governo FHC, o Planalto comprava governabilidade liberando verbinhas em conta-gotas. Nos seus primeiros mandatos, Lula 1 e Lula 2 remunerou o apoio parlamentar com mensalão e petrolão.

Na gestão Dilma, o Congresso começou a tornar impositivos pagamentos de emendas que eram opcionais. Sob Bolsonaro, o melado passou a escorrer pelo ladrão das emendas secretas.

Hoje, os parlamentares mandam e, sobretudo, demandam em cerca de 25% do pedaço do Orçamento disponível para investimentos.

Nesse contexto, a governabilidade idealizada por Lula já não depende de acertos do presidente da República com os chefes da Câmara e do Senado.

No limite, o apoio às iniciativas do governo depende de acertos com cada um dos 513 deputados e dos 81 senadores. O novo normal é a falência do presidencialismo de coalizão. Algo de profundamente anormal precisaria acontecer para que o país e o orçamento público fossem salvos.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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